Há um tempo fui convidado a trabalhar num projeto que me daria prestígio e projeção, mas não daria dinheiro. Como não sou nada, por que não? Tinha tempo, vontade e disposição e, com algum afinco, eu teria meu trabalho reconhecido e tão logo desse certo, seria contratado pelos responsáveis pelo projeto. Por essa época as contas andavam apertadas e havia alguns trocados (literalmente) a receber ali. Mas eu teria contato com gente grande, seria visto e conhecido.
Por mal dos pecados, um grande amigo me mostrou o trabalho de um desenhista chamado Di Vasca, um blog absolutamente sensacional sobre o que significa trabalhar num ramo onde o valor desse trabalho é sistematicamente ignorado. O blog pode ser lido
nesse link aqui - e eu investiria um tempo pra ler tudo, mas tudo mesmo!!!
Pois nessa semana, lendo um blog de um jornalista esportivo bem famoso, vi que ele reproduz uma coluna de um crítico de cultura também famoso na qual faz o mesmo tipo de crítica do Di Vasca - e
pode ser lido aqui - e que também cita um texto do escritor João Ubaldo Ribeiro, que é um primor - e
pode ser lido aqui.
O fato é que todos esses caras dizem que o trabalho intelectual no Brasil não vale nada. Nada. E há um péssimo costume de se pedir um conselho, ou tirar uma casquinha, ou se aproveitar do que o outro faz. E o que acontece com desenhistas, designers, programadores, jornalistas, escritores, também acontece com professores e cientistas. A fala é sempre a mesma, "Mas você está sendo convidado por uma instituição de presdtígio pra participar dessa banca", ou ainda "mas nossa instituição quer contar com o seu nome", e NINGUÉM fala em pagar pelas horas que você vai gastar pra fazer isso.
É raro me perguntarem quanto custa minha hora pra ensinar alguma coisa, e se isso acontece por alguma iluminação divina, todos fazem aquela cara de "Nossa, mas é muito caro!!!"... e eu sempre dava um jeito. Mas parei de dar um jeito. E se todos parassem, talvez algo acontecesse. Mas não vai acontecer. Mesmo assim, tenho preferido dar umas caneladas por aí a me submeter a certas coisas, como por exemplo a experiência citada no início desse texto. Mesmo assim, em outros momentos a gente às vezes cede, por ver de fato algum potencial. Mas não pode ser indiscriminado. Deve partir de mim.
E sempre me pergunto, pra que raios serve estudar, se empenhar e ser bom nalguma coisa se vão querer que eu trabalhe de graça? Vai entender... mas que é cultural, isso é.