quinta-feira, 24 de junho de 2010

Truculência e mercado

Essa semana trombei dois artigos, sem nada a ver um com outro, mas muito elucidativos sobre a forma como agem certos grupos.

O primeiro artigo mostra a aversão dos EUA à invasão do futebol. Não sou defensor do esporte (aliás, pra mim que exploda!), mas os argumentos que cercam essa aversão são de grande valia pra medir o tipo de atitude comum a uma parte expressiva daquele povo. Mais que isso, deixa escapar o que eles pensam do restante do mundo e não fazem questão de esconder. Vale o seu tempo dar uma sapeada nesse link aqui. Os EUA conseguem mesmo tonificar o ódio contra eles com enorme facilidade e eficácia - independentemente do assunto que se trate.

O segundo artigo também mostra um pouco o poder da palavra e da mensagem um pouco menos evidente, bem menos estridente, bem mais perniciosa, mas igualmente eficaz. Se a questão aqui é fazer valer uma idéia, se sobrepondo a outras, então conte a história da forma como quiser e deixe os outros em posição inferiorizada. Nesse link aqui é possível ler um artigo sobre educação religiosa no Brasil, que está sendo dominada por um determinado grupo (precisa dizer qual?). Eu acho CRIMINOSO que se tenha educação religiosa no Brasil. Esse é um Estado laico, e como tal deveria permanecer.

Pra mim, no fim, tudo isso gira em torno de uma coisa só: poder. Ninguém quer dividir sua fatia do bolo com os outros. Do mesmo jeito que as finais da NBA perderam audiência pra Copa, os religiosos de um determinado grupo não querem perder fiéis pras outras. Ambos querem defender suas fatias no mercado.

Simples assim.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Perdas irreparáveis

Esse tem sido um ano muito triste. Muitos grandes nomes se foram. Até então os nomes para os quais eu rendi minhas homenagens tinham pouca relação com o mote do blog. Preferi então deixar de lado Ronnie James Dio, Peter Steele e outras figuras que mudaram meu mundo. Mas hoje não posso deixar de mencionar.

A morte de José Saramago silencia uma das vozes mais estridentes e portentosas da razão. Apesar de ser um fã razoavelmente recente do trabalho dele, devo admitir que emergi muito rápido na sua obra. Fui realmente tragado. Ele é muito de esquerda pro meu gosto. Mas isso não importa. Importa a razão. Razão que falha naqueles que acham que a gente pode ler, entender e, imaginem vocês, apreciar a obra do finado senhor ainda no colégio. Agora, finou-se. Fica a obra. Mais um de volta ao ciclo do nitrogênio.

Deixo aqui um trecho do seu último livro, de 2009, chamado Caim. O velhinho era certeiro e muito, muuuuuuito cruel.

"Há uns três dias, não mais tarde, tinha o senhor dito a abrãao, pai do rapazito que carrega às costas o molho de lenha, Leva contigo o teu único filho, isaac, a quem tanto queres, vai à região do monte mória e oferece-o em sacrifício a mim sobre um dos montes que eu te indicar. O leitor leu bem, o senhor ordenou a abrãao que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que significa que era um costume seu, e muito arraigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abrãao tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim. Na manhã seguinte, o desnaturado pai levantou-se cedo para pôs os arreios no burro, preparou a lenha para o fogo do sacrifício e pôs-se a caminho para o lugar que o senhor lhe indicara, levando consigo dois criados e o seu filho isaac. No terceiro dia da viagem, abrãao viu ao longe o lugar referido. Disse então aos criados, Fiquem aqui com o burro que eu vou até lá adiante com o menino, para adorarmos o senhor e depois voltamos para junto de vocês. Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abrãao era um refinado mentiroso, pronto a enganar qualquer um com a sua língua bífida, que, neste caso, segundo o dicionário privado do narrador desta história, significa traiçoeira, pérfida, aleivosa, desleal e outras lindezas semelhantes." in Caim, p.79, Ed. Cia das Letras, São Paulo, 2009.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Tolerância se faz assim: com cultura

Por falar em intolerância, que foi o assunto dum post anterior por aqui, eis que me deparo com esse belíssimo vídeo sobre a visão que nós temos dos outros. Vale cada segundo, e nem precisa de mais comentários. Aliás, merece um comentário. Esse vídeo é de uma iniciativa chamada TED. Esse pessoal se propões a criar pequenos vídeos, como se fossem pequenas aulas de alguns minutos, que versem sobre um tema muito específico. Pra isso, eles convidam nomes de relevância e fazem um trabalho espetacular. Recentemente, fizeram um TED no Brasil, e há algum tempo há a iniciativa de legendar os vídeos disponíveis por lá. E eu sou capaz de passar um dia inteiro vendo vídeos deles.

Em tempo, esse vídeo tem legenda (antes que resmunguem). Basta clicar num ícone no canto inferior à esquerda escrito "View subtitles" em vermelho e escolher sua língua predileta.

Mas chega de papo. Vejam isso, e como a autora se sentiu, como eu me senti, sintam-se envergonhados da vossa ignorância.