quarta-feira, 24 de março de 2010

Quando não dá para parar de pensar, pensemos em outra coisa...

Quando me deparei com esta citação, apropriada por mim descaradamente (prometo encontrar o autor), aí que não consegui parar de pensar mesmo. Será que é possível ficarmos por um intervalo de tempo sem pensar em nada?

Os praticantes de Yoga em suas meditações dizem que sim. Eu acredito, afinal de contas, que nesta prática há uma conjunção interessante entre mente e corpo. Mas fica uma pergunta para os meus amigos mais próximos das biológicas do que este réles pensador da mente e do comportamento humano. Será que os arcos-reflexos não geram algum tipo de pensamento, inconsciente que seja? E se os praticantes de Yoga meditam para o autoconhecimento e entram em contato com seu inconsciente, supostamente esta entidade psíquica elaborada por Freud, e cerne de toda base filosófica ou científica da psicanálise, seria um caos que se não penetrado com as devidas precauções, causariam danos irreversíveis a estrutura da psique humana. Gostaria de saber, então, se algum praticante pode me esclarecer sobre isso. De como é a orientação e o seu método, pois o que vejo em livros não sustenta minha saciedade de conhecer um relato de quem pratica esta "filosofia de vida".

Do mais, temos Isabella e Nardoni, Glauco e Psicose, analogias simples de gente quase parecidas; a diferença seria o uso de drogas num caso e no outro a falta de uso da droga certa...recomendaria Zyprexia...mas não posso receitar...e neste ínterim de infanticídios e homicídios perpetuados pela estupidez, não poderia deixar de dizer que...eu hein...Prefiro recair.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Finalismo e Intencionalidade

Quando estudamos ciência, temos um péssimo hábito de dizer que "células fazem isso" ou que "receptores decidem aquilo". Na verdade, não, células e receptores não decidem fazer isso ou aquilo. Simplesmente há uma enorme cadeia de eventos que são meramente mecanísticos, portanto sem qualquer intenção; equilíbrios químicos, alterações de voltagem, interações moleculares, e eles acontecem da forma que acontecem, pois durante milhões de anos de evolução e seleção natural, as coisas ficaram como são e não há nenhuma finalidade nisso.

É difícil lidar com isso, uma vez que fomos criados numa tradição cultural em que sempre deve haver um motivo para os acontecimentos, sejam eles quais forem. Não há motivo. As coisas acontecem do jeito que acontecem e são como são. Ponto final.

Isso dificulta demais as nossas explicações, pois sempre procuramos um modo de colocar as coisas de forma compreensível. Assim, acabamos por sacrificar o rigor pra sermos entendidos. Pior pra todo mundo: pro aluno, que aprende uma coisa potencialmente danosa pro seu entendimento futuro de outros conceitos; pior para o professor, que terá que conviver com suas metáforas eternamente sendo replicada nas provas, e para quem for usuário dos conhecimentos desses formandos num futuro próximo.

Papo de doido? Pois leiam essa reportagem aqui e me digam se isso não é fruto de simplificações equivocadas, mal-feitas e absurdamente infelizes - apesar de bem intencionadas. A célula tumoral passa a ter poderes de James Bond e parece que fármacos e tumores brincam de Tom & Jerry. Tudo bem, vão me dizer que é para o público leigo, que nós cientistas temos que sair da nossa torre de marfim e levar o conhecimento para o público. Ótimo. Mas a que custo?

Com o aumento do acesso à rede, qualquer pessoa lê qualquer coisa (vide post abaixo) e acha que pode sair por aí dando pitacos e ser um especialista. Esse é outro problema. Sério, mas em outro lugar. Aqui nesse post a pergunta é: conseguimos extirpar todo o finalismo e intencionalidade das nossas palavras, explicações e conceitos? Belíssimo desafio... mas vale tentar.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Interferências cibernéticas

Discute-se muito o papel da mídia na educação. Isso está se ampliando, já que tanto as mídias têm se expandido em quantidade e abrangência, com a informação se tornado cada vez mais disponível (mesmo que geralmente com qualidade abaixo do sofrível); e a educação, ou pelo menos os processos de aprendizado, têm saído cada vez do âmbito exclusivo do processo formal, ou seja, se aprende cada vez mais fora da escola (seja ela qual for).

As conseqüências disso são imprevisíveis, mas aos poucos vão aparecendo dados que quantificam esse fenômeno. Numa matéria que pode ser lida aqui, um pessoal mostrou como o acesso à internet direciona algumas escolhas dos pacientes em procedimentos médicos. A pesquisa mostra que os pacientes, quando possível, optam por determinada forma de anestesia em detrimento de outra quando têm acesso à informação.

Não é de se estranhar. Temos visto um "boom" de pseudo-especialistas dando pitacos em blogs, sites e o diabo a quatro por aí sem ter um pingo de noção do que se fala. Lúpus, câncer, diabetes... a lista é infinita!!! De repente todo mundo virou especialista em alguma coisa...

Quanto disso é da nossa conta? Bom, é da nossa conta o fato de a wikipedia ter seções dedicadas à farmacologia, a Anvisa ter um bulário online e até o "How Stuff Works" ter páginas sobre Síndrome do Pânico com sintomas, diagnóstico e tratamento. Auto-medicação não é simples, auto-diagnóstico menos ainda: síndrome do pânico não é prisão de ventre! Mas os "especialistas" vicejam ao largo. Não que a wikipedia seja uma porcaria: geralmente não é (pelo menos em inglês). Mas daí, de se ter uma noção ultra-superficial de uma doença a se imaginar capaz de dar opinião sobre o caso, tem um enorme abismo.

Não sou contra a propagação da informação, pelo contrário, temos sim que ter acesso. Mas mais do que isso, temos que ter noção que não entendemos do assunto. E aí é que mora o perigo... aí é que está a encrenca.