quarta-feira, 28 de maio de 2008

Corrigindo Provas: Paulo Francis - parte II

Eu lembro do Paulo Francis na minha infância. Ele falava esquisito. Era um personagem. Quando comecei a entender quem ele era de fato e me interessar pelo que escrevia, ele morreu.
Continuei fã. E vejo em poucos - a bem dizer nenhum - lugar onde haja alguém como ele: ácido, rascante, direto e extremamente eficaz. Num mundo cada vez mais idiota, imbecil e estúpido, ele vira cada vez mais uma inspiração necessária.
O título do post? Bem... os convivas hão de me compreender, afinal de contas, o ibope aqui é baixo, mas fiel. Vejam isso e será a visão do título do post ao longo dos dias...

Paulo Francis - parte I

"Imponente. À proporção que a vida avançava, Francis, fraco e delicado como era, ia sendo assumido por ela e pelas circunstâncias, fingindo sempre o contrário, enfunando o peito, olhando de cima, impostando arrogância. Nos últimos 10 anos tinha crescido uns 10 centímetros. Eu olhava e dizia: "Quem não te conhece é que te compra", pois não apenas no fundo, freudianamente, mas logo abaixo da superfície, era uma alma carente, comprável por um afago verdadeiro, tipo, creiam... familiar. Quem leu sua semibiografia verá isso presente na figura de Irene. Irene, a mãe. A falta angustiada da proteção essencial. A eterna busca. A perda irredimível. Tudo, claro, dolorosamente camuflado.

O sucesso foi uma substituição insuficiente para essa sua ânsia, jamais revelada, revelo-a eu agora, esperando com isso iluminar de modo mais belo essa personalidade que de público cortejou sempre o gosto de chatear, criar adversários, até mesmo alimentar ódios, ser insuportavelmente odioso. Diante de alguns de seus acessos – comigo jamais demasiados – eu zombava, parodiando, comicamente, o Horácio final do Hamlet: "Dá-lhe, sweet prince!".

Fallstaffiano na forma e no conteúdo, ampliava o que sabia, o que lia, o que via, enquanto o tempo, esse marcador de vidas do qual ninguém escapa, nos mostrava que não era suficiente para que lesse tantos livros, visse tantos filmes, fosse a tantas exposições, escrevesse tanto. Mas quando, no calor de uma conversa, surgia qualquer assunto, o último livro, a última polêmica internacional, a última exposição no MoMA, as contas que fazíamos de seus exageros morriam. Ele expelia nomes e conceitos, citava autores e fofocas políticas, com justeza e propriedade, sem possibilidade de consulta, ao sabor do momento. Calava-nos. Calávamos.

E zombávamos também, os amigos, por trás ou pela frente, dos seus erros de observação, factuais ou de avaliação. Mas ele assumia o exagero, dava como desprezíveis as próprias incongruências, assim como assumia o grotesco na televisão, chutando as canelas dos "rivais", e cantando com voz roufenha e razoavelmente desafinada o Summertime ou, quem não viu não verá mais, a chiquita bacana lá da Martinica. E foi assim que criou um tipo, que ocasionalmente passou a imitar, antes que outros cômicos o fizessem.

De uma pessoa de tanto sucesso e tão disposta a atacar, justa ou injustamente, tabus nacionalistas, feministas, literários e que tais, com a capacidade intelectual amedrontadora que ele tinha, é muito brasileiro – será só brasileiro? – duvidar da masculinidade. Francis não escapou dessa. Mas eu conheci, estou contando nos dedos, mais de uma mão de mulheres belas e intelectualmente respeitáveis – combinação não muito comum, não sei se sabem – com quem ele se envolveu de maneira intensa e algumas vezes dramática.

Falando apenas do sucesso, sem discuti-lo, não conheço outro jornalista que tenha tido o que ele teve. Foi sempre visível, desde o tempo de suas impiedosas críticas teatrais, passando pelo Pasquim, Folha de S.Paulo, O Globo, TV Globo, e nesta, ultimamente, fazendo o que ele sabia fazer como ninguém – entrevistar personalidades famosas. Em inglês. Tudo a bom preço, que fazia questão de ostentar, materializando, nos grandes hotéis do mundo, na primeira classe dos aviões, nos carros com motorista, no seu ato existencial de todo dia, o "Sorry Periferia", do outrora Ibrahim.

Tinha, na sua profissão, chegado ao máximo, como repercussão, como compensação, como satisfação. Não podia ir mais longe. Me despedi: "Good night, sweet prince"."

Millôr, Revista Veja, edição 2025, 12 de Setembro de 2007.



sábado, 24 de maio de 2008

Tormentos

"A inteligência é um cavalo louco, é preciso aprender a segurar suas rédeas, a alimentá-lo com boa aveia, a limpá-lo e às vezes, a usar o chicote"

Friedrich W. Nietzsche

Aos atormentados e atormentadas de plantão.

À guisa de ter de lidar com estúpidos e imbecis e às voltas com os demônios da alma.

Mais Nietzsche em breve... se não houver algum surto de bom-humor nesse ínterim.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Mazelas

"USP dá péssimo exemplo"

Gilberto Dimenstein

Imagine uma universidade com sofisticados laboratórios e bibliotecas, nos quais se reúnem professores, pesquisadores e alunos da elite econômica de um país. Imagine também que, nesse lugar, além da excelência acadêmica, as pessoas sejam preocupadas com a inclusão social. Finalmente, imagine que, ali, seja considerado um dos principais centros de conhecimento da América Latina e até do mundo. Está pronto?

Agora, imagine que, nesse espaço, se coloque uma escola pública gerida por uma faculdade de Educação, destinada majoritariamente aos filhos e funcionários da universidade. Como você acha que seria essa escola pública? Lamento, mas você, caro leitor, errou.

Existe uma escola pública, com apenas 733 alunos, dentro da USP, a principal referência brasileira de ensino superior. Mas essa escola não está nem mesmo entre as 40 melhores do Estado de São Paulo, a julgar por um indicador que acaba de ser divulgado (o detalhamento está no www.dimenstein.com.br).

O resultado mereceria várias teses de doutorado sobre a dificuldade de articulação de uma escola pública com a sua comunidade. Bastaria que um punhado de voluntários da USP assumisse a tutoria dos alunos com maior dificuldade ou que se usassem melhor os recursos disponíveis da universidade ( laboratórios, bibliotecas e museus), além dos serviços médicos, psicológicos e assistenciais, para que, em curto período, aquela escola seja uma das melhores do Brasil.

A USP prestaria um gigantesco serviço à nação se usasse sua inteligência para ensinar a fazer melhores escolas públicas --aliás, está nas suas origens a missão de ajudar a educação pública. Mas, ao contrário, dá um mau exemplo, que arranha sua imagem perante aos cidadãos e contribuintes."

RESSALVAS
1. O Dimenstein é um onguista endinheirado, com o rabo preso com o PSDB de São Paulo e que vive adulando os caras pra conseguir privilégios. Além do mais, ele posa de intelectual, mas é um grande pilantra.
2. Ele tem razão quanto ao fato de ser, no mínimo, constrangedor pra escola de aplicação não ter um bom desempenho nas avaliações. Mas ele não mostra como é a estrutura de lá e que a maior parte dos alunos que trabalha lá o faz por obrigação e não por vocação. Oras, não isso o que acontece em TODAS as nossas escolas? Se é professor por FALTA de opção. Ou pra fazer um complemento da renda.
3. Imaginem então como estão outras escolas por aí...
4. Ele não falou de outras escolas de aplicação: da Ufscar, da UNESP, da UNICAMP... todas elas têm escolas de aplicação, e que tb aparecem mal nas estatísticas. Mas ele vai no pescoço da USP. Primeiro por que é bom achincalhar as mazelas da USP (eu tenho uma teoria sobre isso) e segundo, por que sempre é legal apedrejar vitrines. Não tenho por que defender a USP, já que sou muito crítico com relação a um monte de coisas sobre ela, mas não sei se não há uma certa parcialidade do sujeito - levando-se em consideração suas ligações políticas.
5. Façam o exercício de pensar no que isso significa para professores tacanhos - que acham que são os bons e estão espalhados aos montes por aí? Já ouço em salas-dos-professores por aí... "Tá vendo, pra que serve aquela faculdade de educação; depois vem me dizer pra eu me meter com essas coisas... a minha aula é muito melhor que isso!!! Meus alunos é que estão bem!!!"
Oh, Lord!!!!



quarta-feira, 14 de maio de 2008

Em tempo...

Na boa... fuçando nas notícias, logo após a postagem anterior, me lembrei de uma coisa desanimadora: o quanto essas seções de ciência e tecnologia da imprensa brasileira são horrorosas!!!

Eles me fornecem material infinito pra criticar grandes bobagens. Prestam sim um desserviço.

Preciso começar os textos originais, mesmo que correndo alguns riscos. Por que ficar nadando nesse mar de inépcia é ficar fazendo variações sobre um mesmo tema: a estupidez!!!

RI-DÍ-CU-LO...

Atendendo a pedidos... e com toda a razão, volto a postar por aqui. Minha paciência anda curta, e ler certas coisas me faz pensar em que mundo temos vivido. A grande merda é que são as pessoas que têm feito o mundo dessa forma.
Seja como for, eu me pergunto o que pensa um leigo quando lê uma coisa esdrúxula dessas.

"Mãe exposta a garrafas plásticas pode gerar filho obeso, indica estudo

da Reuters, em Genebra

A exposição do feto a produtos químicos comuns no dia-a-dia --como garrafas plásticas e canos de água-- pode levar o futuro adulto à obesidade, apontam pesquisadores norte-americanos.

Estudos realizados com ratos mostraram que animais expostos a quantidades mínimas de substâncias químicas durante a gestação se tornaram mais obesos do que os que não tiveram contato com elas. A pesquisa foi apresentada no Congresso Europeu sobre Obesidade.

"Estamos falando de uma exposição em níveis muito baixos e por um tempo limitado da gestação", alertou Jerry Heindel, do Instituto Nacional de Ciências de Saúde Pública dos Estados Unidos.

A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 400 milhões de pessoas são obesas --um problema que aumenta o risco de se desenvolver diabetes tipo 2 e doenças cardíacas.

Estudos anteriores já haviam relacionado essas substâncias químicas ao câncer e a problemas reprodutivos, levando diversos países, incluindo os Estados Unidos, a considerar a proibição ou limitação do uso desses produtos, segundo os pesquisadores.

Um dos componentes chama-se Bisfenol A, encontrado em plásticos de policarbonato. O contato se daria por recipientes plásticos de comida e bebida, sugeriu uma pesquisa anterior.

Uma equipe da Universidade Tufts mostrou que fêmeas de ratos cujas mães foram expostas a essas substâncias durante a gestação ganharam mais peso na fase adulta, apesar de terem as mesmas atividades e dieta de outros espécimes femininos.

Um efeito similar foi registrado com ácido perfluorooctanóide, um agente resistente à gordura usado em sacos de pipocas para microondas. "Um dos problemas que estamos enfrentando é que não sabemos onde todas essas químicas estão", afirma Suzanne Fenton, bióloga da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.

Segundo Bruce Blumberg, biólogo da Universidade da Califórnia, as substâncias parecem prejudicar o sistema endócrino por meio da alteração de genes e funções metabólicas relacionadas ao ganho de peso."

Acho que as mães expostas a garrafas pet podem estar bebendo demais do conteúdo da garrafa... aí sim eu acredito na relação com a obesidade. Mas essa notícia só pode ser piada... na boa...

Está no link...

E haja pânico!!!