terça-feira, 26 de outubro de 2010

Por que a coisa vai mal, parte II

No outro post, metemos o pau nas falhas da educação. Coisa séria, e não deve ser negligenciada quando pensamos nas coisas que vemos cronicamente erradas. Mas, a mãe de um amigo costumava dizer que a cultura amansa o ser humano. E concordo com as palavras dela. Só educação não basta, ou pelo menos, a cultura faz parte da educação. Instrução apenas é quase como adestrar animais... como se estivéssemso muito longe disso.

Nem preciso dizer que não fui surpreendido pela notícia de que não se consome cultura em São Paulo - pode ser visto nesse link aqui. Shoppings sim. Cultura não. Cultura não é uma coisa que se possa exibir; é pedante, não? Sendo assim, queremos coisas. E continuamos ignorantes e semi-selvagens. Como a instrução sozinha não garante educação, e sem cultura não temos educação, preciso comentar algo mais sobre o estado lamentável em que se encontram as coisas?

Não sou fã de teatro. Vi meia dúzia de peças e acho meio chato. Também admito que não vejo muita graça nos museus de São Paulo - acho que podia ser muito melhor. Mas também admito que sinto falta de um circuito de cinema mais alternativo e um circuito musical mais decente e valorizado; também advogo que há bem mais cultura do que somente shows, museus e cinemas - qual foi o último livro decente que se leu por aí?

Vamos mal... vamos muito mal...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Por que a coisa vai mal

     Não é novidade o problema da educação cá na terrinha. Essa tragédia vem se consumando há décadas, e agora a bolha finalmente estoura no mercado de trabalho: mais vagas do que gente capacitada pra elas. Todo o percurso do ensino é um lixo - com pouquíssimas exceções, e que são quantitativamente irrelevantes para as demandas sociais do país. Procurando a origem disso, não precisa cavar muito, e nem fazer grandes tratados sociológicos. Basta constatar o óbvio: educar não compensa. Cobrar pela instrução, sim; pagar bem pelo serviço de instrução, não. A julgar pelo que diz o noticiário, as coisas vão continuar piorando a passos largos.
     Por conta do dia dos professores, uma série de reportagens mostrou um panorama superficial, manjado e puído do cenário desanimador do ensino. As coisas devidamente espalhadas por aí, mas não é difícil ligar os pontos e ver a coisa aparecer com grande clareza. Vejamos. 
     Você pode ler aqui que não são os bons alunos que vão dar aula: é só o restolho - e que ainda por cima, fazem uma faculdade que não exige grande coisa deles (o que é um crime!!!). Também pode ler aqui que um dos resultados da tragédia não é só dos professores, mas culpa do governo que - dentre outras culpas - não dá condições de trabalho na escola. O resultado, você pode ler aqui, é um docente estafado, perdido e desamparado que, somado à péssima formação que teve, não vai conseguir trabalhar. Se ele não trabalha, se o estado não dá condições, qual tipo de aluno vai sair desse sistema educacional? Um que pode ser visto aqui, que não quer saber da qualidade do curso, mas quanto ele custa - o que infelizmente faz sentido, dada nossa realidade social. E assim, fecha-se o ciclo, que se perpetuará por muito tempo, ou até que algum governo tome providências.
     Quando eu terminei a faculdade (no início desse século), uma amiga dizia que, em algum tempo, professores bons seriam escassos. Nunca achei que veria isso acontecer tão cedo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Colheradas Eclesiásticas

     Semana passada aconteceu o anúncio anual do Prêmio Nobel - um pouco mais sobre o prêmio pode ser lido aqui. No grosso, além da imortalização do seu nome nos anais da história, de ganhar um milhão de dólares e ser convidado a peso de ouro para dar palestras mundo afora, ainda se ganha carta branca pra falar besteiras por aí, mesmo antes de esclerosar - vide o Luc Montagnier que passou a pregar sobre a memória da água.
     Mas o que chamou atenção dessa vez não foi o prêmio, mas algumas reações; uma especificamente. Entendamos o caso.
     O Nobel de medicina foi para um sujeito que desenvolveu a fertilização assistida - e ficou conhecido como o "Pai" dos bebês de proveta. No início foi um estrondo. Dizia-se que seria possível escolher o sexo do bebê, as características físicas... tudo bobagem. Apesar de ser possível distinguir espermatozóides X e Y, a coisa não é como escolher entre torta de morango ou chocolate. Mesmo assim, foi um enorme avanço, em dois itens dignos de nota: em primeiro lugar, as técnicas de manipulação e conservação de células foi um passo importantíssimo para o domínio atual de engenharia de tecidos e pesquisas em células-tronco (só isso); em segundo lugar, pelo alívio de um sofrimento psicológico absurdamente intenso, que é a dificuldade/impossibilidade da maternidade. Muitos casais que não podiam ter filhos estavam aprisionados num pesadelo depressivo - e eu não vou explorar as dimensões psicossociais do caso, mas não é difícil pensar no quão catastrófico isso pode ser para um casal, a mulher principalmente.
     É óbvio então que os avanços propiciados pela pesquisa nesse campo são sensacionais - seja para a fecundação assistida, mas ainda mais para os enormes potenciais das células-tronco - e sem sombra de dúvida, se causa diminuição do sofrimento humano, é bom, não?
     Não para a santa madre igreja. 
    Imediatamente após o anúncio do Instituto Nobel, as cornetas do Vaticano ecoaram mundo afora. Condenaram a premiação de algo anti-natural, que viola as leis do chefão deles, e toda a pantomima que costuma empestear manifestos dessa natureza. A notícia pode ser lida aqui, e a repercussão aqui. O absurdo dessa situação é tal que só pode ser comparado aos absurdos típicos proferidos costumeiramente por eles mesmos - do não uso de preservativos, do não uso das células tronco. 
     A ironia disso tudo é que a crítica deles faz todo sentido. Se a ciência for capaz de aliviar os sofrimentos humanos, prover conforto para aflições físicas e as explicações para o funcionamento do mundo material, pra que então serve a igreja? Já que o chefe deles só se ocupa das aflições da alma, então que não metam colheres eclesiásticas no caldo alheio.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Maomé e a montanha.

...nunca me esquecerei de um conto de nossos tempos. O personagem principal desta história que vos conto, foi apenas, segundo ele, um coadjuvante. Sua vida sempre foi farta. Farta no sentido maníaco. Anéis de Saturno mais próximos que o chão. Uma ternura hardcore. Acordava cedo, este personagem, perguntando para si mesmo qual seria o motivo do próximo porre. Nunca lhe faltou. Perguntar-se sobre isto já era um motivo. Companhia nunca lhe faltava, tinha muito mais que quatro por cento. Gritavam em uníssono a melodia contra o tédio. Tropeçavam para cair, e caíam, pois estavam longe do chão. Uma eterna queda no abismo das relações humanas. A farra era farta e a ressaca era um bom motivo. Era jovem, tinha apenas 19 anos: seis de abusos. Um ano de sobra. A contemplação era constante, a ponto de viciar quaisquer cristãos ferrenhos; e Divina, pois era compartilhada como cigarros no manicômio. Uma loucura breve, de sanidade intermitente, como a tristeza. E porque não, como a felicidade. Fã de poesia, este personagem não tinha medo de fingir. Tinha razões mais científicas para viver em seu maravilhoso mundo de Alice. Fingia para si mesmo por não suportar a idéia de ter que acreditar no que via. E pensando bem, ele tinha motivos. Viveu este personagem o tempo certo. Brindou os dias com as lágrimas que não chorou. Recolheu-se em sua história e parou. Parou de beber. Não parou de fumar. Parou de escrever. Mas não parou de ler. Parou de sonhar. Mas não acordou. Parou de fazer... e apenas me diz a noite este personagem quando me lembro dele:
- A realidade é muito triste.
Eu respondo:
- Eu hein, prefiro recair.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Cultura e Conhecimento

Definitivamente cultura e conhecimento são coisas que não necessariamente andam juntas. Portanto, obter conhecimento não torna as pessoas mais cultas, apesar de haver pessoas cultas com nem tanto conhecimento assim. Fato é que o público universitário é tido como a elite intelectual... só se for piada. E pra terminar a catástrofe, nem nos EUA a coisa melhora.

Neste link aqui há uma reportagem que mostra como os universitários são crédulos e ignorantes - não só daqui da nossa terrinha atrasada. Isso reforça uma máxima do meu avô, que sempre diz que se a gente pendurar uma sacola de dinheiro no lombo e amarrar um diploma no pescoço de um porco, ele vai continuar sendo um porco do mesmo jeito. O pior desse caso é que são estudantes teoricamente muito melhor formados que os daqui, e que acreditam em coisas incríveis (leia o texto - é tragicômico!); portanto, não é um diploma e uma sacola de dinheiro num porco, mas sim, uma metralhadora e uma granada nas mãos de um chimpanzé!

O caso é que a educação formal não consegue desmanchar crendices, e principalmente a falta de uma educação científica permite que absurdos permaneçam vivos na "cultura" vigente. Esses absurdos poderiam ser inofensivos, mas não são. Pessoas com grande poder podem vir a tomar decisões baseadas unicamente na sua "experiência". A não separação entre ficção e realidade, e principalmente, na minha opinião, a necessidade de uma busca incessante por sentido para uma vida estúpida, mantém os absurdos vivos e pululando por aí. Sem dúvida, faz diferença pras nossas vidas, cedo ou tarde.