terça-feira, 27 de março de 2012

Da serie, "Redescobrindo a Roda"

Estudar é um saco. Ir pra escola, faculdade, ou seja lá o que for, na maior parte do tempo é uma obrigação. Não há quem diga o contrário em algum momento da vida. Não há quem não tenha sentido o contrário, mesmo gostando muito. Eu não posso me queixar: fiz uma faculdade divertidíssima. Aprendi muita coisa legal. Mas passei muita raiva. Tive muita aula ruim, mesmo com professores absurdamente bem-intencionados. Alguém aí tem algo diferente pra dizer? Pois é... acho que não. Queixas não faltam.

O problema é que a psicologia, sobretudo alguns bons autores da pedagogia, conseguiram mostrar que não precisa ser assim. Pode ser divertido, estimulante, e, pasmem, nada sacrificado. Isso é o que um pessoal dos EUA mostraram em pesquisas recentes, que pode ser conferido nesse link aqui. Estudar é um saco, ir pra escola, ainda mais. Aprender não. A situação da escola é chata, a obrigação de ter que fazer certas coisas sem o menor estímulo; ou pior, quando professores ruins conseguem estragar nosso ânimo com aulas ruins. Por outro lado, aprender é algo interessante. E faz todo o sentido. 

O cérebro não consegue ficar sem informações novas. Isso é ainda mais verdade no final da infância e início da adolescência. Tudo aborrece, por que não há entrada suficiente de informação pra "animar" o cérebro. O que fazer, então? Oras, dê algo pra ele mastigar. Coloque os alunos pra descobrirem coisas novas. Faça-os ir procurar, deixe pistas e rastros e compartilhe com seus alunos a experiência da descoberta.

Opa... tem coisa nisso aí... tem sim. Isso já foi dito há mais de cinquenta anos, isso mesmo CINQUENTA anos!!! Um psicólogo americano chamado Jerome Bruner conseguiu fazer crianças em idade pré-escolar descobrirem sozinhas as operações fundamentais da matemática. Ele criou um sistema de atividades em que as crianças faziam brincadeiras com bolinhas coloridas e iam concluindo a cada passo qual operação havia sido feita. Depois essas crianças tiveram desempenho melhor em matemática que outras que aprendiam do jeito tradicional.

Moral da história: os americanos agora conseguiram encontrar alguns detalhes do que o Bruner encontrou lá atrás. Mas não inventaram a roda. Certamente incorporaram pesquisa de outros campos da psicologia, e estão expandindo o que o velhinho mostrou lá atrás. Não vou encompridar o assunto, mas junto com outro sujeito chamado David Ausubel, eles fizeram um barulho danado nos anos 50 e 60, quando os EUA se deram conta de que era necessário melhorar a educação no país, pra poder competir com a ex-União Soviética. E alguém acha que isso foi usado aqui no Brasil? Claro que não. E quantos dos nossos professores fazem idéia de quem foram esses caras, o que fizeram e como aplicar aquilo que eles mostraram há tanto tempo? Deixa pra lá...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Arbítrio e espinhos

Se já não é fácil pensar na ética tico-tico do cotidiano, que dirá levá-la a sério como uma disciplina ou, pior ainda, quando envolve assuntos cujas decisões terão ramificações, implicações e consequências de grande impacto social, e não mais pessoal ou no micro-cosmo do indivíduo. Pois eis nessas duas notícias aqui e aqui, encrenca de grande porte: suicídio assistido e eutanásia.

Juro que não quero nem passar perto das implicações legais da coisa - não tenho calibre pra tanto - e menos perto ainda das implicações religiosas - não tenho mais paciência pra isso. Mas o fato é que sobra aqui um pedaço não menos relevante da conversa que é o fato do indivíduo poder exercer o seu arbítrio. Ele deveria poder, não? Ele deveria poder escolher não mais viver, fazer uma grande festa, se despedir dos amigos e das pessoas amadas, sair de fininho e tomar uma injeção letal. Ou ainda, como no caso do inglês da primeira matéria, poder pedir pra alguém resolver um problema que ele não tem maneira de fazer. Pra pensar um pouco na questão, sugiro um bom filme chamado Mar Adentro, com atuação magistral do protagonista, um marinheiro que ficou tetraplégico e quer ter o direito de acabar com a própria vida.

O miolo da questão pra mim é: qual então seria o limite do arbítrio sobre si? Liberdade é se fazer tudo o que lhe é permitido numa sociedade; independência é ter coragem pra isso; autonomia é ter pernas pra isso. Mas, e quando se trata de agir sobre si mesmo? Nesse caso, é o arbítrio sobre o próprio corpo. Pode-se fazer uma tatuagem, colocar piercings,  fazer lipoesculturas, silicone, ser anoréxico, beber urina... mas não se pode dar cabo da própria existência? Ok, mas nesses casos, o indivíduo não tem como praticar o ato, ou então quer fazê-lo de forma menos traumática para si e para os seus, por que não se pode contratar um profissional especializado e legalmente outorgado pelo Governo pra fazer o serviço? 

Espinhoso, muito espinhoso... mas penso que esse direito sobre si deveria existir de forma inalienável, na forma de Liberdade para tal.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Formalizando impressões

Hoje saiu uma notícia que não é novidade pra nenhum professor de nível superior: os alunos não sabem matemática. Quer dizer, segundo os dados (nesse link aqui), 60% dos alunos. Do meu ponto de vista, esse é um dado até modesto e subestimado.

Aliás, os alunos não sabem um monte de coisas quando saem do ensino médio, mas matemática é crítico, pois envolve tanto o domínio das lógicas, como o domínio de uma linguagem simbólica específica. Isso é fundamental para o aprendizado de ciências, por exemplo. 

Mas o dado não é novo. Há uns bons anos (décadas, talvez), um pessoal da USP mostrou que o aluno que passava na FUVEST era aquele que ia bem em Matemática e Língua Portuguesa, e que o desempenho nas outras matérias não era determinante. Ora, isso faz todo sentido. Se o sujeito sabe matemática, então física e química também estão sob controle, já que envolvem linguagens simbólicas específicas e lógica; e se o sujeito sabe língua portuguesa, então ele consegue entender tudo de geografia, história e redação. 

Resumo da brincadeira: a bolha que veio surgindo na degradação do ensino fundamental está estourando no ensino superior. E isso não é de agora. Onde se vai parar? Sei que verei o resultado disso... aliás, já vejo.

Água e sabão

Depois de longa inatividade, estamos de volta. Depois de apelos emocionados dos meus cinco leitores, e da entrada de uma nova turma, certamente ganharemos mais um leitor esse ano.

Dentro de pouquíssimo tempo, alguma coisa realmente nova por aqui. Enquanto isso, vou jogando água e sabão e colocando os esfregões a funcionar.

We're back...