quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sonhos da Indústria Farmacêutica II - Fiat Voluntas Tua


Se a cronificação é um sonho possível e hoje está no mainstream da Indústria Farmacêutica, isso sozinho não resolve o problema do consumo de remédios. Como arranjar mais pacientes crônicos para consumir mais remédios?

A multiresistência de microorganismos a antibióticos é um problema médico, mas uma beleza farmacêutica. Se houver organismos demoníacos que não morrem por nada no mundo, então, entupam-se de novos e cada vez mais potentes antibióticos - e retroalimentem o ciclo. É pouco. Vacinas para as mais variadas moléstias? Bem, as ondas de vírus mortais (que só matam em filmes, jornais ou um público específico) só funcionam de tempos em tempos. Uma vez vacinados, então ninguém mais fica doente - e ninguém mais compra remédio. Há um post aqui mesmo no blog falando sobre gripe suína, que pode ser visto nesse link aqui, e um curta metragem aqui, que são mais uma ilustração do caso viral (o filminho vale seu tempo!).

Qual todo o problema desse papo? É necessário ter gente doente; estamos falando de enfermidades. Não é difícil imaginar que a maioria das pessoas do mundo está saudável, e mesmo nos lugares mais inóspitos do planeta,... bem, nos lugares mais inóspitos não há grana. E se não há grana, não há a indústria... e nem nada. Então, o que fazer? Convencer a massa de que elas estão realmente doentes. De alguma coisa, seja lá o que for, desde que comprem remédio, e muito! E remédio pra efeito colateral do primeiro, e remédio pra reação adversa do segundo, e assim indefinidamente. Eis aí o mercado brutal dos OTC, ou seja, remédios de venda livre.

E que lugar do mundo seria mais propício pra uma mentalidade dessas? Pois vejam esse filminho aqui deveras elucidativo e pensem no que há aí.

*Antes que venham me dizer besteira, vai um alerta: o pessoal que postou esse vídeo ignorantemente o considera como apologia às drogas. Não é. É muito mais profundo do que o que os caras querem e eles não percebem o tiro no pé. É uma crítica brutal a isso que estamos pontuando aqui*.

A segunda mina de ouro que surge nesse pelotão do fazer-consumir-remédios é a propiciada pela mazela dos nossos tempos: a ditadura da felicidade. Antidepressivos, ansiolíticos e todo tipo de pílulas pra se fazer rir, parar de chorar, dormir, estudar, se despreocupar, aturar uma vida besta, enfim, todas as delícias da nossa época.

Nesse ponto, conclamo o pessoal da psicologia a se manifestar. Realmente a quantidade de psicofármacos receitada é necessária? Alguém já ouviu um psicólogo dizer de cara a um paciente que ele não precisa de terapia, ou um psiquiatra dizer que o paciente não precisa de remédio? E ser liberado da terapia? É como cabeça de bacalhau, todo mundo sabe que tem, mas ninguém jamais viu. Não me refiro a má-fé. Mas a uma tendência, e por isso, o especialista do blog pode escrever com muito mais propriedade que este que vos fala num post vindouro.

Pelo sim, pelo não, está claro que a Indústria Farmacêutica - e suas correligionárias - conseguiram seu Fiat Voluntas Tua, que é a expressão em latim pro último estalar de dedos de Deus na criação: Que seja feita a Tua Vontade. Consuma.

E tem sido feita.

3 comentários:

V. disse...

Interessante como qualquer coisa pode ser pontuada como droga...
A uns tempos atras vi uma reportagem de uma revista no qual a capa era um sanduiche malvado, e o principal destaque era que comidas gordurosas "viciam" seu cérebro como cocaína e heroína. Aqui uma outra: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=vicio-comida-drogas&id=5129
De fato tem-se um controle intenso quanto ao que comemos e medicamos, mas é ridiculo como somos bombardeados pela falta ou a desinformação.
Estão sempre nos falando o que fazer e como. Alguma hora temos liberdade para pensar no que significa tudo isso? Não, parece maquina, obedece e segue em sua utilidade para depois ser descartado.
É tanta coisa que poem no nosso organismo que dá medo só de pensar.
Realmente é degradante, e como dizem os velhos sábios: prefiro recair...

montagna disse...

Tive uma professora de farmaco que dizia que qualquer droga, legal ou ilegal, pra te lascar era só uma questão de dosagem. É interessante ver o ponto de vista do pessoal da farmaco. Eles têm uma visão muito interessante, e obviamente bem elaborada, sobre o assunto.

Anônimo disse...

Eu sempre tive pra mim que muitas (se não todas)as drogas que são ilegais poderiam ter aplicações terapêuticas que por conta da ilegalidade do seu uso, "lúdico", acabam dificultanto o desenvolvimento de pesquisas na área. Haja visto, o quão polêmico ainda é, por exemplo, a "administração" de maconha em pacientes com certos tipos de cânceres. Penso que muito mais poderia ser desenvolvido (inclusive com ação em sistema nervoso), mas e a aceitação?; as questões de cunho ético-moral, cultural, religioso e todas as questões polêmicas envolvidas com o tema?