quinta-feira, 29 de abril de 2010

Pesadelos da Indústria Farmacêutica

Parece brincadeira que essa notíca apareça agora, mas, uma vez mais lá vai o nosso estimado governo quebrar uma patente de remédio - e manter acesa a fogueira dessa discussão.

Vamos começar com uma coisa só: isso é crime internacional. Patente é pra ser respeitada. Ponto. Se alguém inventa alguma coisa e registra essa invenção, quem quiser usar tem que pagar. Há os exageros. Semana passada o presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) quis uma reserva para o uso da palavra RIO. "Olimpíadas" faz sentido, mas Rio?!?! Também há um monte de gringos vindo até a Amazônia procurar princípios ativos naturais e depois patenteando, e portanto, dizendo que é deles.

Em cima dessa idéia de preservação de Idéias, as patentes são a garantia de que um inventor pode continuar vivendo de invenções, um criador pode continuar vivendo de criações e que isso lhes renderá grana. Uma grande parte da ciência vive disso, principalmente a parte da ciência que se refere à tecnologia. Imaginem o que seriam a Boeing, Ferrari, Nintendo, Sony, Rolex, Hewlett-Packard, McDonalds, Intel, e todo um caminhão de corporações que a todo momento precisam de novas criações pra continuar competitivos nos seus mercados, se não fossem as patentes. E isso é um balaio de gatos por que vira e mexe, esses mesmos caras que reclamam quando são plagiados, são flagrados roubando a idéia de alguém - vide a Microsoft.

Pois bem. E até agora, cadê a indústria farmacêutica? Em primeiro lugar, ela é uma indústria como qualquer outra, portanto, vive de lucros como qualquer outra e depende de invenções e criações como qualquer outra. Os custos de pesquisa da indústria farmacêutica são como os custos da Boeing pra fazer um avião ou da Intel pra fazer um novo processador para computadores. Toda essa turma tem vínculos com universidades e estão antenados às novas tecnologias - e investem cifras estratosféricas em pesquisa. Por que a indústria farmacêutica seria diferente dessa turma?

Simples, a indústria farmacêutica produz uma coisa com enorme clamor popular: remédios. Pessoas morrem por falta deles. Remédios salvam vidas e "fazem bem". E se é para o bem de seres humanos que se produz remédios, então devemos fazê-los. Os poderosos deveriam se curvar às necessidades dos necessitados e ter coração, permitindo que todos tivesse acesso a remédios, mas a indústria é má e gananciosa - como vimos nos posts anteriores.. Mas ninguém se comove. Então, aparece um governo Robin Hood que vai tirar dos ricos e dar para os pobres, quebrando a patente de um remédio importante.

Portanto, quebrar uma patente significa aumentar o acesso a remédios para classes menos favorecidas. Isso significa que o custo do remédio deve cair por volta de 60 a 70%. quando não é necessário pagar os direitos de um produto. Portanto, fica mais acessível e mais pessoas podem usar uma medicação antes mais restrita.

Pois há algum tempo, o Brasil conseguiu quebrar a patente dos remédios para AIDS. Isso gerou uma controvérsia monstro, pois a indústria alegava que a fabricação de remédios do coquetel não seria mais economicamente vantajosa (estão errados?), e pior, não seria mais vantajoso pesquisar na área se eles não tivessem como ganhar dinhiero que sustentasse essas pesquisas por meio do pagamento dos direitos dessas patentes (estão errados?). Uma discussão acalorada e extremamente elucidativa desse caso da AIDS pode ser lida aqui, onde há uma maravilhosa entrevista com Robert Gallo, um dos cientistas mais importantes na descoberta do vírus HIV e hoje, totalmente alinhado com os interesses da indústria. É um vídeo que vale MUITO seu tempo.

Tudo ótimo... queremos salvar vidas, queremos evitar uma desgraça com o espalhamento da doença, queremos o bem. Uma parte do primeiro mundo chiou horrores com a decisão do governo brasileiro, houve uma série de boicotes da indústria - inclusive com aumento de preços de outros remédios pra supostamente compensar as perdas dessa quebra de patente, mas tudo seguiu. O terceiro mundo aplaudiu, os humanitaristas apaludiram... e a caravana segue. Mas...

Ontem, o governo aprova a quebra da patente do viagra. Viagra?!?! Disfunção erétil?!?! Alguém vai morrer?!?! É uma epidemia de paumolência?!?!? Só podem estar de brincadeira. A notícia pode ser lida aqui. Se antes o argumento era salvar vidas, e agora, qual será? Só por que o Brasil gasta 160 milhões de reais em remédios do gênero, nós vamos quebrar o galho dos brasileiros?!?! Ora, convenhamos, isso esvazia o argumento anterior.

Mas, sejamos lúcidos. Tudo isso não passa de guerra econômica. O preço de um remédio é justo? Quanto é o preço justo de um remédio? O que é um preço justo? Justo pra quem? Quanto tempo deve durar uma patente? Quanto se deve pagar por ela? Pra que servem as leis?

Se a indústria se enfezar, não terá sido por falta de provocações. Se tomar atitudes drásticas, não terá sido por falta de avisos. Não é à toa que o Brasil é o campeão mundial de consumo de pirataria. E isso não é pirataria?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Sonhos da Indústria Farmacêutica II - Fiat Voluntas Tua


Se a cronificação é um sonho possível e hoje está no mainstream da Indústria Farmacêutica, isso sozinho não resolve o problema do consumo de remédios. Como arranjar mais pacientes crônicos para consumir mais remédios?

A multiresistência de microorganismos a antibióticos é um problema médico, mas uma beleza farmacêutica. Se houver organismos demoníacos que não morrem por nada no mundo, então, entupam-se de novos e cada vez mais potentes antibióticos - e retroalimentem o ciclo. É pouco. Vacinas para as mais variadas moléstias? Bem, as ondas de vírus mortais (que só matam em filmes, jornais ou um público específico) só funcionam de tempos em tempos. Uma vez vacinados, então ninguém mais fica doente - e ninguém mais compra remédio. Há um post aqui mesmo no blog falando sobre gripe suína, que pode ser visto nesse link aqui, e um curta metragem aqui, que são mais uma ilustração do caso viral (o filminho vale seu tempo!).

Qual todo o problema desse papo? É necessário ter gente doente; estamos falando de enfermidades. Não é difícil imaginar que a maioria das pessoas do mundo está saudável, e mesmo nos lugares mais inóspitos do planeta,... bem, nos lugares mais inóspitos não há grana. E se não há grana, não há a indústria... e nem nada. Então, o que fazer? Convencer a massa de que elas estão realmente doentes. De alguma coisa, seja lá o que for, desde que comprem remédio, e muito! E remédio pra efeito colateral do primeiro, e remédio pra reação adversa do segundo, e assim indefinidamente. Eis aí o mercado brutal dos OTC, ou seja, remédios de venda livre.

E que lugar do mundo seria mais propício pra uma mentalidade dessas? Pois vejam esse filminho aqui deveras elucidativo e pensem no que há aí.

*Antes que venham me dizer besteira, vai um alerta: o pessoal que postou esse vídeo ignorantemente o considera como apologia às drogas. Não é. É muito mais profundo do que o que os caras querem e eles não percebem o tiro no pé. É uma crítica brutal a isso que estamos pontuando aqui*.

A segunda mina de ouro que surge nesse pelotão do fazer-consumir-remédios é a propiciada pela mazela dos nossos tempos: a ditadura da felicidade. Antidepressivos, ansiolíticos e todo tipo de pílulas pra se fazer rir, parar de chorar, dormir, estudar, se despreocupar, aturar uma vida besta, enfim, todas as delícias da nossa época.

Nesse ponto, conclamo o pessoal da psicologia a se manifestar. Realmente a quantidade de psicofármacos receitada é necessária? Alguém já ouviu um psicólogo dizer de cara a um paciente que ele não precisa de terapia, ou um psiquiatra dizer que o paciente não precisa de remédio? E ser liberado da terapia? É como cabeça de bacalhau, todo mundo sabe que tem, mas ninguém jamais viu. Não me refiro a má-fé. Mas a uma tendência, e por isso, o especialista do blog pode escrever com muito mais propriedade que este que vos fala num post vindouro.

Pelo sim, pelo não, está claro que a Indústria Farmacêutica - e suas correligionárias - conseguiram seu Fiat Voluntas Tua, que é a expressão em latim pro último estalar de dedos de Deus na criação: Que seja feita a Tua Vontade. Consuma.

E tem sido feita.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sonhos da Indústria Farmacêutica I - Cronificação

A indústria farmacêutica é um dos ramos mais lucrativos do mundo. Não por acaso andou pairando acima do bem e do mal em tempos de crise. O pessoal deixa de viajar, comprar coisas, trocar de carro, fazer o diabo, mas remédio não entra na lista de cortes. Junto com isso, devemos deixar de ser hipócritas e idealistas e parar de pensar na indústria farmacêutica como algo pro bem da humanidade. Não é. Como qualquer indústria, ela visa o lucro. Ponto final.

Tendo isso como ponto de partida, devemos imaginar quanto custa colocar um remédio no mercado - toda a pesquisa necessária pra fazer uma molécula sair do laboratório de uma universidade e cair nas prateleiras das farmácias. É uma grana grossa. Justificada, não justificada, necessária, desnecessária... não vou comprar essa briga por enquanto. A idéia agora é tratar dos sonhos de consumo da indústria: como lucrar o máximo, pelo máximo tempo possível.

Não é necessário nenhum exercício intelectual muito profundo pra se chegar na condição médica que faz brilhar os olhos da indústria farmacêutica, a doença crônica. Imaginem que um cidadão hipertenso começa a ter problemas lá pelos seus 40 anos de idade, e vai morrer de infarto aos 60. São vinte anos tomando um caminhão de remédios. Mas tem muita gente que não se cuida, por que os sintomas de hipertensão só aparecem quando a coisa já tá grave; o mesmo vale (bem porcamente) pra diabetes tipo II; ouso até dizer que tabagismo e alcoolismo entram pra essa estatística. Mas as duas grandes fatias, caro leitor, aparecem de fontes inauditas. Câncer e AIDS.

Esse ano duas notícias de remédios interessantes para essas doenças apareceram na mídia. A primeira foi uma declaração de Luc Montagnier (Nobel de Medicina de 2008) dizendo que o caminho é tornar a AIDS uma doença crônica (entrevista nesse link aqui). Tirando que o sujeito é só ganhador do Prêmio Nobel pela descoberta do vírus e uma das vozes mais influentes da história recente da ciência e da medicina, o que ele sugere é um sonho brilhante para a nossa indústria. Vejamos... o adolescente contrai o vírus aos 16 anos e pode viver com ele até os setenta e poucos anos (considerando a média de vida humana em países razoavelmente bem das pernas). Isso significa coisa da ordem de cinco a seis décadas consumindo um remédio que não será barato. Afinal de contas, a morte por HIV é horrenda. Tendo ou não grana, o sujeito vai se virar pra evitar isso - e se ele não puder pagar, vai fazer de tudo pro governo do país dele bancar. Não importa quem compra, o que importa é vender.

Outro caso interessante é o do câncer. Alguns fármacos descobertos recentemente têm atividade que controlam o crescimento ou até mesmo fazem regredir certos tipos de cânceres. Um deles, não tão recente, mas um dos mais importantes, é o Glivec. Enquanto se consome o remédio, nada de câncer. Parou, o câncer volta. Alguém se arriscaria?

No final pergunto: se é possível cronificar uma doença, pra que procurar uma cura? Pra tratar o sujeito e ele nunca mais ter que ver aquele remédiod e novo? Nem a pau... a ordem do dia é cronificar. Anotem essa palavra, pois nossa saga continua.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Associação Brasileira de Portadores de Angioedema

A pedido de uma colega da FOC, vai um post pra divulgar o trabalho da Associação Brasileira de Portadores de Angioedema, que pode ser visto neste link aqui. Colocaremos o link aí na barra de ferramentas pra ficar sempre visível. Pro pessoal que acompanha o nosso blog e que também tem um blog, espalhem a informação. Esperamos que a divulgação possa atingir pessoas que venham a se beneficiar desse trabalho.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Respeito e tolerância.

Gosto de tema, respeito e tolerância. Acho que as palavras têm muito em comum, mas são usadas de forma indiscriminada e, principalmente, são intercambiadas de forma equivocada. Respeitar é uma coisa, tolerar é outra. Nos aprofundamos na questão mais adiante. Por enquanto, vai um link para um texto, meio longo, mas que vale a pena, sobre tolerância. Onde ela surge de forma mais visível e suas conseqüências sociais. Comento o texto depois. Por enquanto, vamos ao dito cujo que está nesse link aqui. Critiquem.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Em algum lugar do passado...

Nesta semana que chamam de "santa", a última que passou e todo mundo suou água com açúcar, pude visitar a minha querida Galeria do Rock. Hum!!! Antes de irmos, eu, minha namorada e um amigo que passou a semana em meu apartamento, procurei aquela camiseta surrada de banda, aquela bota de couro que transforma os dedos em amoras, dinheiro trocado para um café (antes era para bomberinho e cerveja mas...) e saí todo empolgado em direção ao que era meu refúgio nas tardes de sábado quando tinha meus 14 aninhos. A sensação estava de pura nostalgia, meus pensamentos tinham cheiro e sabor. Minha namorada empolgadíssima de tanto que já havia falado para ela sobre a Galeria do Roooooockkk... cara, animal!!! aham, desculpem-me.

Enfim, tudo estava maravilhoso até eu perceber que estava sentado no banco do meu carro. Ué? Péra aí!! Tem alguma coisa de errado. Nunca tinha ido para a galeria de carro, coisa óbvia! Mas não desanimei, meti um Sabbath no Cacareco (meu carro) e seguimos nosso destino. Detalhe, quem me ensinou o caminho até a galeria foi meu amigo que mora na Bahia, nasceu em Belém do Pára e viveu em São Paulo uns anos.

Não foi difícil chegar, cidade vazia, excelente companhia e cigarros. Difícil foi ter que desembolsar vinte pilas por 3 horas de passeio. A nostalgia foi passando a cada passo. Lojas diferentes, novas tribos, novas marcas, novos bonecos (que absurdo!) e de repente... tudo ruiu, quando vi, que o meu boteco preferido, virou uma hamburgueria!!!!

A Galeria do Rock, para mim, era um ponto de encontro que honrava seu nome... ROCK. Decepcionei-me na hora, mas passou quando percebi que, o primeiro cd que adquiri naquele lugar, o meu grande sonho de consumo na época, Paranoid do Black Sabbath, estava o mesmo preço de um hamburguer do meu estimado antigo buteco, R$ 8,80. Na época em que comprei este cd, ele deveria custar o dobro e mais uns 3 contos. Logo pensei, "cacete Leo!!! você já envelheceu o suficiente para poder perceber que o sonho não morreu cara, ele virou hamburguer"... e sempre vai virar alguma coisa.

Por sinal, o hamburguer era bom mesmo, recomendo. Terceiro piso. E uma coisa que gostei de ver na Galeria também, o respeito entre os frequentadores, pelo menos ninguém se agrediu enquanto lá estive. E desta vez, não prefiro recair.