Carnaval é uma tragédia completa e absoluta em tantos aspectos que nem dá pra começar. Seja como for, encontrei esse texto há uns dias e tive um pouco de preguiça de comentar e preambular por aqui. Mas o fato é que estão enfiando umas coisas nas nossas cabeças, e portanto nos cobrado padrões de comportamento, que estão ficando cada vez mais irritantes. O pior pra mim é perder o direito de estar mau-humorado, ser rabugento e ter que gostar de coisas estúpidas como o carnaval, por exemplo.
Sei que a coisa foge um pouco do escopo do blog, mas, como o subtítulo mesmo diz, também há espaço para divagações. E essa é minha divagação da semana - em comemoração ao fim das férias forçadas desse país desde o Natal.
O texto está nesse link aqui.
8 comentários:
Já pararam pra pensar como as pessoas, em geral, tem medo da tristeza, da melancolia, do mau-humor, do luto. Alguém aí já olhou torto pra algum conhecido que declarasse estar deprimido (clinicamente)? Alguém teve medo, ainda que bem escondido, de estar perto de pessoas em tratamento com os tarja preta? Não respondam...
Nessa onda de felicidade, sorriso, perfeição, sucesso, qualquer sentimento "negativo" virou sinal de fracasso. E como é desconfortável estar perto de gente assim e desconforto quebra a regra da alegria, a gente logo evita ter gente "negativa" no nosso circulo de amizades.
Quando cumprimentamos alguém com um "olá, tudo bem?...", a pergunta sempre é respondida com outra meia-pergunta/meia-resposta: "tudo bem?..."
E ambos concluem que está tudo bem!!!
Bom, é nítido que essa falta de melancolia traz um grave problema que é uma euforia que me dá até medo! Porém tal euforia traz alguns problemas, sendo um deles retratado na forma de falta de reflexão, ou seja, essa mídia atual juntamente com a indústria cultural não querem que indivíduos se ponham a pensar e refletir, e como fazer isso? Uma forma está em suprí-los do sofrimento, da melancolia, fazendo-os viver em um mundo imaginário, dito perfeito, onde todos os desejos são atendidos, todos são sexy, tem os melhores tênis, roupas, enfim: reduzem as preocupações. Com efeito, cria-se um mundo cada vez mais fútil e exclusivo, onde aquele que pensa é tido como melancólico e sozinho. Seguem abaixo um textos, cujo qual não tenho referência do autor, mas creio ser válida a partilha:
"É fundamental o hábito de reservar tempo para o auto-conhecimento, para a reflexão diante de tantas experiências vividas, especialmente as mais marcantes; embora nossa cultura favoreça exatamente o contrário: o tumultuo, a balbúrdia, estados alterados de humor, temperamento e consciência, desestimulando que o indivíduo se coloque numa posição de concentração, lucidez e reflexão. O resultado disso, não poderia ser diferente do que cansamos de ver todos os dias nos diversos contextos sociais."
Não é euforia... é pior, muito pior: é flat.
É tal qual ovo de páscoa barato: casca fina, sem gosto e dentro não tem nada.
Chega a ser engraçado como a idéia de 'felicidade constante' está fixada na cabeça das pessoas. Elas sempre estão em busca de diversão, algo que lhes traga a suposta felicidade e satisfação; e também a aceitação da sociedade, a qual prefere ( e neste caso, não sei se essa é a palavra certa, porém a única que me ocorre neste momento) esse 'comportamento'.
Não digo que você deva refletir 3x em todas as situações, mas essa parada e análise autocrítica e dos acontecimentos é necessária. E nem sempre essa reflexão precisa ser quando se está triste, mas é extamente aí que paramos. Acredito que assim é que começam as mudanças de atitude, e assim, aumenta-se a 'carga' de conhecimento e experiência. Infelizmente, também somos discriminados (palavra forte!) por isso.
O mais interessante é a idéia de tristeza coletiva, existe um falso engajamento em relação a tragédias mundiais. Não paramos para pensar nas perdas alheias, apenas conformamos o sofrimento alheio de modo brando. Dizemos como é triste o que aconteceu ao Japão e logo em seguida comentamos sobre o tempo. Faz sentido?
Lógico que não precisamos se debulhar em lágrimas a cada tragédia que acontece. Mas me parece que estamos anestesiados, quase alienados em relação aos próprios sentimentos. Nos conformamos que existem pessoas em estado pior que o nosso e nos obrigamos a ser gratos pela felicidade vazia.
Mas é no inconformismo e na melancolia que saem as melhores reflexões. É nessa vontade de mudar que nos engajamos em prol de um bem maior, como aconteceu no Egito.
Enquanto isso nos estatizamos em inconformismos brandos, como no aumento das passagens de ônibus.
Felicidade enlatada e sorrisos forçados e assim nos esquecemos de nos mesmos e do poder que temos.
Realmente melancólico com um toque de ironia.
Não diria que as pessoas se conformam simplesmente. Uma boa parte sim. Mas há também um número razoável de pessoas que se sentem 'felizes' por verem a si mesmas superiores às pessoas do entorno. É aquele tipo de pessoa que se sente tão inferiorizado que precisa, a qualquer preço, encontrar algum defeito, alguma coisa de errado no outro pra não se sentir tão por baixo.
Resumindo: ela não se sente grata por não se ferrar como o outro, sente-se feliz porque o outro está se ferrando.
Tão sádico, nunca entenderei a natureza humana...
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