Pra azedar a alegria do post anterior, vou colocar aqui uma reflexão desanimadora.
Encontrei um trecho legal pra mostrar o que acaba nos acontecendo depois de tanto levar bordoada do mundo, sem refletir sobre essas bordoadas. No final, não escapamos de apanhar muito. Mas no dia em que deixarmos de fazer o que devemos fazer, estaremos nos tornando coniventes com a situação.
Vai um trecho do “Discurso da Servidão Voluntária” do filósofo francês Etienne de la Boétie (1530 -1563):
“É verdadeiro dizer que no início serve-se contra a vontade e à força; mais tarde, acostuma-se, e os que vêm depois, nunca tendo conhecido a liberdade, nem mesmo sabendo o que é, servem sem pesar e fazem voluntariamente o que seus pais só haviam feito por imposição. Assim, os homens que nascem sob o jugo, alimentados e criados na servidão, sem olhar mais longe, contentam-se em viver como nasceram; e como não pensam ter outros direitos nem outros bens além dos que encontraram em sua entrada na vida, consideram como sua condição natural a própria condição de seu nascimento [...] Entretanto, o hábito, que todas as coisas exercem um império tão grande sobre todas as nossas ações, tem principalmente o poder de ensinar-nos a servir: é ele que, a longo prazo (como nos contam de Mitridates, que acabou habituando-se ao veneno), consegue fazer-nos engolir, sem repugnância, a amarga peçonha da servidão”
“É verdadeiro dizer que no início serve-se contra a vontade e à força; mais tarde, acostuma-se, e os que vêm depois, nunca tendo conhecido a liberdade, nem mesmo sabendo o que é, servem sem pesar e fazem voluntariamente o que seus pais só haviam feito por imposição. Assim, os homens que nascem sob o jugo, alimentados e criados na servidão, sem olhar mais longe, contentam-se em viver como nasceram; e como não pensam ter outros direitos nem outros bens além dos que encontraram em sua entrada na vida, consideram como sua condição natural a própria condição de seu nascimento [...] Entretanto, o hábito, que todas as coisas exercem um império tão grande sobre todas as nossas ações, tem principalmente o poder de ensinar-nos a servir: é ele que, a longo prazo (como nos contam de Mitridates, que acabou habituando-se ao veneno), consegue fazer-nos engolir, sem repugnância, a amarga peçonha da servidão”
Desanimador nos ver nessa situação. Mas quanto conseguimos nos desvencilhar dessas amarras e não nos tornarmos marginais? Talvez quase nunca na prática, mas jamais podemos nos render nas idéias.
11 comentários:
E o plano das idéais não chega a ser quase uma prisão por isso?
Libertador quando a idéias não se rendem, mas não seria justamente por isso aprisionador? Um extremo que chega ao seu oposto.
Complicada a situação, porém vejo que ter consciência da situação já é algo de grande valia e não deve ser descartado. Em todo caso não devemos nos manter parados de tais condições. Esse texto em muito me lembrou o Mito da Caverna, com a diferença de que o protagonista não aceitou viver engolindo o "veneno" citado no texto.
Contentar-se é um problema. E o amargor se alastra nas nossas vidas pelo não se contentar, e ver que pouco há a ser feito de EFICAZ.
Concordo com vc, mas eu fico pensando... Trazendo pra vida do dia-a-dia, pras pessoas que nós conhecemos, não são raras as vezes, períodos ou até vidas inteiras em que uma pessoa (nós mesmo quem sabe)toma consciência mas se vê impossibilitada de mudar, de sair da caverna como vc citou. Também isso é venenoso. Não?
Ainda vejo que tais mudanças não precisam ser radicais, pois de radicalismo fútil e vazio já estamos cansados de ver. Vejo a mudança, primeiramente como algo interno (no caso o ganho de consciência), depois de forma gradativa tentar, ao menos, passar essa consciência. Em muito nos frustraremos, nos questionaremos se é válido, porém se ao menos alguns se sentirem atraídos por aquilo que tentamos passar, creio que esse "veneno" já será disseminado de forma mais tênue.
Pode ser uma bobagem sem tamanho o que eu vou falar, mas consciência não é algo que se passa e sim algo que se tem, se adquiri, quem sabe com o tempo, a vivência e, sobretudo, a observação atenta do entorno e de si.
Passar uma, suposta, consciência àqueles que se sentirem atraídos por ela é uma contradição conceitual... que funciona muito bem nas religiões e nos modismo sócio-culturais que "ditam" o que devemos vestir, falar, fazer e pensar.
Aquele que "recebe" esta consciência de outro ainda continua "servindo" e como acredita que é livre, jamais procurará a liberdade. Não?
Vejo como consciência como algo capaz de desenvolvimento, assim como a inteligência. De certa forma, todos temos! Alguns mais do que outros. Vejo que meu primeiro post abriu margem para uma interpretação equivocada e por isso peço desculpas. O que realmente quis dizer não foi em passar consciência de uma forma literal, mas sim nossas experiências e vivências do nosso amadurecimento interno para que dessa forma erros alheios, e até mesmo os nossos, sejam menores visando um coletivo melhor e menos caótico. Certo?
Certo. Só não vejo como isso nos ajudaria a nos libertar da servidão a que o texto se refere.
Aceitar o fato que somos minoria acadêmica e de que não podemos fazer nada para o crescimento tecno-científico de um pais em níveis vergonhosos de qualidade de ensino é a servidão. O que fazer para não sermos mais apenas a minoria é a libertação. A estupidificação diante da grave crise de bom senso no mundo em relação a quebra de paradigmas políticos no mundo árabe é a servidão da mente alienada. Seremos prisioneiros de alguns paradigmas e de outros não? o que seria a total liberdade da mente? A inconformidade insana ou total desapego das questões humanas?
o que seria realmente essa libertação e se realmente ela nos traria aquilo que desejamos?
Não existe liberdade... leia Malvados... a gente sempre vai incorrer em outra categoria de servos.
HAHAHAHA!
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