quinta-feira, 26 de março de 2009

Chiei, e responderam!!!

Reclamei da matéria com o pessoal da Folha. E não é que responderam? Tanto melhor. Isso significa que podemos ser ouvidos, e portanto, devemos falar!

Segue meu mail e a resposta da repórter. Devo também elogiar que a resposta veio em dois dias, e que o ombudsman mandou bem! Minhas considerações estão no final.

"Sent: Tuesday, March 24, 2009 9:36 AM
Subject: Erro no folha saúde

Saudações

Há alguns problemas no texto "Reduzir carne vermelha reduz mortalidade", no Folha Saúde de 24/03/2009, na versão online.

Em primeiro lugar, o texto cita o "Jama", mas não diz nem em qual volume da revista está o artigo pra que se possa ler o dito cujo original e nem qual o nome dos pesquisadores pra que se possa entrar em contato com os mesmos afim de discutir os resultados.

Em segundo lugar, não há nenhum detalhe sobre a população avaliada na pesquisa e quais outros fatores de risco dos pacientes (como fumo, histórico de câncer e hipertensão). Também não diz qual a causa da morte e repentinamente o texto toma a liberdade e falar em câncer e trazer um dado que o artigo original não cita!!!

É notório que a divulgação científica no Brasil é lastimável, assim como é notório que pouco se faz a respeito já que a ciência só é interessante se for impactante.

Fico à disposição para eventuais esclarecimentos

Att

Prof. Erik Montagna

Mestre em Ciências (Bioquímica) pela USP.
Docente de Metodologia da Investigação Científica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bioquímicas Oswaldo Cruz, São Paulo, SP.

Caro. Sr. Erik,

a repórter Julliane Silveira enviou a resposta que segue abaixo.

Atenciosamente,

Carlos Eduardo Lins da Silva
Ombudsman - Folha de S.Paulo

"obrigada pelas considerações.

Em geral, não citamos número de periódico em reportagem do jornal _até porque muitos desses períodicos não são acessíveis ao público leigo. Dizemos que a publicação é de hoje (24/3), para facilitar a busca do leitor que se interessar por mais informações. O pesquisador principal é Rashmi Sinha, da Universidade da Carolina do Norte.

A população avaliada, como cita a reportagem, é composta por norte-americanos de 50 a 71 anos de idade. Os pesquisadores consideraram variáveis como histórico de câncer e de tabagismo, IMC, atividade física, ingestão de calorias e de álcool, consumo de frutas e vegetais, entre outros. Para validar a pesquisa como base de reportagem, a consideração de variáveis normalmente é essencial. Por termos espaço limitado no jornal, não incluímos essa informação, que apenas atesta a relevância da pesquisa, mas não é dado imprescindível para o leitor leigo, nosso principal foco.

Entendo que o dado não citado no estudo a que você se refere é a forma de preparação da carne. Em material do Jama divulgado para a imprensa, o pesquisador faz a relação do aumento de incidência de câncer e doenças cardiovasculares com as substâncias liberadas durante a preparação das carnes, a grande quantidade de gordura saturada e excesso de sal nas carnes processadas, como explicamos na matéria.

Outras informações presentes na matéria foram fornecidas por especialistas brasileiros, de instituições renomadas, que avaliaram o estudo e citaram dados importantes para o leitor _como é praxe das reportagens publicadas pela Folha."

Manifestação: para avaliação e resposta ao leitor."


Pois acho que a resposta da repórter procede. Ela tem razão quanto ao público alvo e as minhas solicitações. Entretanto, ela assume que o material original cita sim as predisposições, mas eles não citam por que aquilo só corrobora o que é dito.

Pois bem. E qual seria o problema? O texto direciona pra um lado repentinamente e não dá conta de um "meio-de-campo" necessário pra fazer a ponte. Ela alega que há limitações de espaço. Verdade, e nem acho que deveria ser um tratado. Mas de novo, entramos no assunto da linguagem. A imprensa sempre bate o prego. Nunca existe o condicional, a possibilidade e as chances. Mas de novo, como eu disse, o que interessa é o impacto.

Devo também notar que nos comentários do post anterior foi dito que não deu pra encontrar o artigo no JAMA. Eu também não encontrei nada no volume do dia 24.

Estou dando esse assunto com o ombudsman por encerrado pois achei o retorno bastante satisfatório - veja, pelo retorno em si. Eu poderia discutir um pouco mais sobre isso, mas deixaríamos de tratar do assunto em si e falaríamos de jornalismo científico, o que não é o caso.

A pulga atrás da minha orelha: sem a famosa "carteirada" no fim do mail, teriam dado andamento ao caso e me respondido? Ou isso não teve nada a ver? Sei lá... já escrevi muito pros caras em coisas parecidas, mas é a primeira vez que me respondem. Coincidência? Tomara.

4 comentários:

Anônimo disse...

É... a carteirada no final tem um certo efeito psicológico. Mas vamos ser otimistas e considerar que eles sempre respondem... E ainda bem que eles responderam!

Mas um detalhe preocupa um pouco: não foram as informações (avaliações)dos "especialistas brasileiros, de instituições renomadas" que pioraram a situação da matéria?! :o|

Ah, o artigo está no "Archives of Internacional Medicine" com o título: "Meat Intake and Mortality - A Prospective Study of Over Half a Million People "

( O "Jama" parece ser uma de suas seções)

Loraine disse...

Bom saber que eles respondem (ou pelo menos DESSA VEZ responderam)!

montagna disse...

Estatisticamente, é irrelevante minha opinião. E os caras têm a razão deles: a mídia não serve pra informar m**** nenhuma.

Pois preciso agora fuçar o artigo que nossa amiga mendou ver aí em cima. Vou baixar, ler e vejamos se a coisa como dizem mesmo. Se não for, tenho material pra mais uma visita ao ombudsman... hehe

Anônimo disse...

Opss... Lugar errado!

O "Meat Intake and Mortality - A Prospective Study of Over Half a Million People" está no "Archives of Internal Medicine" e não "Internacional", que além de tudo estaria escrito errado! (meu inglês é uma vergonha :o/)

Foi mal...