quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Freud explica...

Escrito em 1929, o Mal-Estar na Civilização, grande escrito de nosso primeiro google (afinal, bem antes da internet as pessoas já falavam "Freud Explica!"), mostra o conflito entre o indivíduo em busca pelo prazer a qualquer custo vivendo em uma sociedade que o reprime. Uma sociedade na qual seu nicho não fornece aquilo que seria necessário aos seus integrantes para que todos vivessem felizes para sempre (que bonitinho!). Neste duelo, indivíduo-sociedade, duas forças internas do ser humano entram para "ajudá-lo". Uma se chama pulsão de vida, ou eros, ou princípio do prazer, responsável pela interação do indivíduo com a sociedade através da aproximação dos indivíduos etc. E uma outra, chamada pulsão de morte, thanatos, ou princípio da realidade, responsável pela tendência de destruição da sociedade. Neste escrito, Sigmund Freud nos fala da impossibilidade da felicidade total do indivíduo frente às repressões impostas pelo policiamento de uma sociedade utopicamente dita em harmonia. Para se livrar destas repressões, os mais saudáveis encontram o amor, seja ele interpessoal ou mesmo à própria alienação proveniente do policiamento que lhe é imposto. Outros, jogam-se em psicopatologias de inconformismo, pois o desequilíbrio entre as forças citadas tende mais para a pulsão de morte. Até aqui, leitura.

Chamou-me muito a atenção mais um destes noticiários vespertinos que sempre começam antes de você tomar banho. No meu caso eu ia comprar mais cigarros. O apresentador do telejornal disse mais ou menos isso:

- E nós vamos encerrar o jornal de hoje com essas imagens...Até amanhã gente!

As imagens apresentadas eram de um grupo de prostitutas trocando socos e puxões de cabelo. Logo pensei, vivemos numa sociedade, que até a destruição de nós mesmos é um negócio engraçado! Freud pode ficar sossegado, estamos achando muito prazer na destruição. Sempre haverá um grupelho de idiotas que acha muito louco ver desgraça alheia. Sem falar de sistema de saúde, corrupção, educação falida etc. Está todo mundo encantado com a possibilidade de se tornar feliz plenamente um dia. E o pior, não é por amor. Ou é pela pulsão de morte que nos atrai e esta, em desequilíbrio com a pulsão de vida, e estamos virando psicopatas; ou é pelo sonho idiota e mesquinho de que ficaremos ricos um dia. Programão daqui um tempo... assistir violência gratuita na tv, sair para caminhar e chutar um mendigo, roubar a banca de jornal para jogar na megasena. UHU! Prefiro recair.

11 comentários:

Loraine disse...

Ahhh não... não me diga que vc anda assistindo esse tipo de telejornal! haha Eu aposto na Record!
Outro video absurdo que passou muito na tv foi aquele em que o ex-marido entra no salão e mata a cabeleireira com vários tiros. Esse video foi exibido em todos os jornais!
E sabe o que é ainda pior? Quando eles pegam essas porcarias no Youtube e apresentam na tv! Além de ser uma informação de procedência duvidosa, o video é de péssima qualidade.

Anônimo disse...

Será que estamos virando psicopatas? Ou já somos há muito, muuuuuito tempo? Quem sabe até mesmo antes de Freud...
Na época de Jesus qual era a "programação"? Assistir a crucificaçÕES!?
E mais tarde, o que foram as fogueiras (claro, uma forma de repressão do clero, mas tb uma espécie de "passeio de domingo", não?).E o Coliseu?
São as mesmas pulsões (ou a relação entre elas) que movem todos esses "fenômenos", não?

Leon Gonzalez disse...

concordo com os dois comentários.sim era record.e sim, eram as mesmas pulsões...creio eu.o ser humano,nas épocas citadas,tinha infinitamente menos o acesso a informação.logo sua pulsão de morte vivia num desequilibrio claro e óbvio.a repressão era muito mais visceral.a reação diante de uma repressão de tamanha força é o conformismo ou a revolução.os que tentaram de alguma forma a segunda alternativa foi queimado.ou foi jogado no coliseu.ou foi crucificado.quem garante que todas as pessoas que estavam assistindo uma crucificação já não estava alienada o suficiente pela repressão(dinamica de pulsao de vida e de morte,voce sente fome o que é uma pulsão de vida;voce devora o alimento e o destroe,pulsão de morte,aparente equilibrio e amor estranho).quem garante que as pessoas que iam ao coliseu assistir aos massacres dos escravos aprisionados pelo império romano não estavam lá para pegar um pedaço de pão e agradar seu soberano para autopreservação(pulsão de vida).quem garante que as pessoas que lá iam assistir as pessoas serem queimadas realmente não acreditavam que o churrasco deveria ser feito,repressão e pulsão de morte.o que o texto quer dizer é que hoje em dia já não importa a dinâmica,seja ela qual for,a humanidade vai prevalecer e nunca vai se extinguir por si mesma,pois cada indivíduo perdeu-se na própria mentira manifesta de alcançar uma felicidade que não existe.nestas épocas citadas,a felicidade era cotidiana e palpavel em momentos.era limitada porem real.

montagna disse...

Tem algum link pro texto original por aí? Sei que a obra do Freud não tem mais direitos autorais, o que possibilita encontrarmos a obra dele em algum grotão da rede... tentemos...

Leon Gonzalez disse...

olha montain...link do original eu nao sei pois eu tenho o livro(herança de um tempo ditoso)e ce sabe melhor do que ninguem que com a internet sou quase um virgem de trinta anos.se vc puder dar uma sapeada ai eu agradeço.mas acho difícil.

Unknown disse...

e ah montanha...valeu pelo título!

montagna disse...

Às ordens... a gente tá aqui pra isso... hehehe

farmacéptica disse...

Volume XXI - aqui: http://www.gabrieltorres.xpg.com.br/puc/o_mal_estar_na_civilizacao.pdf

Outro aqui: http://www.tutomania.com.br/file.php?cod=6137

E aqui (parece que está completo):http://www.scribd.com/doc/11026798/Livro-O-MalEstar-Na-Civilizacao-Sigmund-Freud

Tá bom, né?

farmacéptica disse...

Ah, agora eu devolvo a pergunta...

Se cada indivíduo se perdeu na sua mentira de felicidade, digamos "comercial de margarina",como estão os que não "perdidos" nessa mentira?
(não me diga estão felizes!)

Unknown disse...

existem diversas maneiras do indivíduo se "proteger" de alguma maneira.como citei no texto, uma parte destes indivíduos patologizam seu estado de incorfomismo como forma de adaptação.trabalham,praticam esportes,transam,usam drogas,fazem teatro,estudam...enfim,só que todas essas atitudes são levadas,na maioria das vezes numa proporção muito desregular.muito intensa.o que acaba por desviar o indivíduo daquilo que realmente seria seu desejo prímevo.recomendo para voce,que já vi que curte esses assuntos,ler sobre o que Marcuse escreveu sobre a obra de Freud.acho que voce vai gostar muito.mas o pior de tudo isso,após alguns percalços de minha vida,percebi que é possível ser feliz sim.pois,na minha opinião,felicidade é apenas um estado de espírito.não é constante...mas nunca terá um final.valeu?

Farmacéptica disse...

Bem, eu diria que aqueles que não compartilham da "felicidade de mentira" e que se sabem não compartilhantes disso têm grande chance de estarem tristes (na falta de um termo melhor).
Mas entendi o que vc disse e concordo que há meios de se caminhar tendos momentos de felicidade.
E sim, me interesso por esses assuntos. Valeu a dica de leitura! :o)