segunda-feira, 12 de março de 2012

Arbítrio e espinhos

Se já não é fácil pensar na ética tico-tico do cotidiano, que dirá levá-la a sério como uma disciplina ou, pior ainda, quando envolve assuntos cujas decisões terão ramificações, implicações e consequências de grande impacto social, e não mais pessoal ou no micro-cosmo do indivíduo. Pois eis nessas duas notícias aqui e aqui, encrenca de grande porte: suicídio assistido e eutanásia.

Juro que não quero nem passar perto das implicações legais da coisa - não tenho calibre pra tanto - e menos perto ainda das implicações religiosas - não tenho mais paciência pra isso. Mas o fato é que sobra aqui um pedaço não menos relevante da conversa que é o fato do indivíduo poder exercer o seu arbítrio. Ele deveria poder, não? Ele deveria poder escolher não mais viver, fazer uma grande festa, se despedir dos amigos e das pessoas amadas, sair de fininho e tomar uma injeção letal. Ou ainda, como no caso do inglês da primeira matéria, poder pedir pra alguém resolver um problema que ele não tem maneira de fazer. Pra pensar um pouco na questão, sugiro um bom filme chamado Mar Adentro, com atuação magistral do protagonista, um marinheiro que ficou tetraplégico e quer ter o direito de acabar com a própria vida.

O miolo da questão pra mim é: qual então seria o limite do arbítrio sobre si? Liberdade é se fazer tudo o que lhe é permitido numa sociedade; independência é ter coragem pra isso; autonomia é ter pernas pra isso. Mas, e quando se trata de agir sobre si mesmo? Nesse caso, é o arbítrio sobre o próprio corpo. Pode-se fazer uma tatuagem, colocar piercings,  fazer lipoesculturas, silicone, ser anoréxico, beber urina... mas não se pode dar cabo da própria existência? Ok, mas nesses casos, o indivíduo não tem como praticar o ato, ou então quer fazê-lo de forma menos traumática para si e para os seus, por que não se pode contratar um profissional especializado e legalmente outorgado pelo Governo pra fazer o serviço? 

Espinhoso, muito espinhoso... mas penso que esse direito sobre si deveria existir de forma inalienável, na forma de Liberdade para tal.

Um comentário:

Anônimo disse...

Já que a Destilaria está de volta: destilemos nosso veneno!!!

Sou taxativa quanto ao assunto. Cada um decide sobre sua vida e morte com toda a liberdade possível dentro dos limites do não passar por cima da liberdade do outro.

Assim, se eutanasia ( e qualquer outro assunto polêmico desse nível) é certo ou errado pra esta ou aquela pessoa, pra religião, pros valores de pessoas e/ou grupos, cada um decide sobre si se prefere seguir ou não seguir esta ou aquela vertente.

É uma decisão individual. E ninguém deveria ter nada com isso.

Só estando numa situação em que isso (ou qualquer outra coisa) seja uma opção real pra se saber nosso limite.

Acho que mais do que ser a favor ou contra a eutanasia em si, deveríamos nos questionar:

Porque não ser a favor do DIREITO (meu e do outro) à eutanasia?

Mesmo que eu, pessoalmente, seja contra. Mesmo que eu não admita a mim mesmo utilizar este direito.