segunda-feira, 19 de julho de 2010

O desaparecimento; Renovado e o Surto para a amiga virtual.

Olá meus caros amigos...sim eu sei...eu sumi! Por que? Trilhando rumos de conhecimento e vida acadêmica lotada de compromissos. Desculpas? Se assim for necessário, considerem-nas pedidas. O desaparecimento das pessoas é algo intrigante e corriqueiro no mundo de hoje. Com a competição entre nós humanos, instaladas por nós mesmos, pois adoramos vencer ou acumular conhecimento para nosso regozijo, ficam cada vez mais reduzidos aqueles velhos círculos de amizade. Para este que vos escreve, envelhecer não é um processo doloroso, muito pelo contrário; no entanto, para quem imaginava que ficaria velho e poderia montar um time de futebol de campo para compartilhar a velhice, acompanho com meus pesares que no máximo jogarei xadrez... e creio que será com o Montagna. Apesar de saber que neste jogo nos perderemos com a música e toda a cerimônia não canônica por vir. Mas as lembranças nos movem para que possamos arrastar quem realmente nos interessa. Cabe-nos perceber o quanto nós mesmos estamos dispostos a fazê-lo, uma vez que cada dia que passa vendemos nosso tempo por cédulas estranhas, por nós criadas também.
Bem, com todo este bla bla bla nostálgico, neste semestre acompanhei de perto um surto psicótico. Um colega de minha Faculdade, após anos de exclusão por parte de uma grande maioria de seus colegas, ou porque se formaram ou porque passaram a evitá-lo, pois percebiam a estranheza de seu discurso, levou um facão e teve um Surto. Mas o que é o surto?
Um surto é uma dissociação de pensamentos, cobertos ou não por delírios e alucinações, na sua maioria persecutórios, surgidos pelo descontrole de neurotransmissores (dopamina) gerados por uma cadeia de fatores estressantes ou fatores agudos de stress. Muitos surgem com o abuso de drogas amigas da dopamina, tais como cocaína, ecstasy, anfetaminas etc. Ou por traumas dissociativos na infância. Na mais tenra infância, de 6 anos em média para baixo. Fatores genéticos e ambientais juntos formam a mente psicótica. No caso de meu colega, anos de abuso de drogas, morbidez patológica na família e exclusão. Resistência a medicação vai fazer com que a mente do enfermo vire uma geléia de protoplasma, pois conviverá com os delírios e alucinações. Processo psicoterápico mais usado hoje em dia é Cognitivo-Comportamental. Tenho lá minhas ressalvas, mas fica para um próximo post. Leituras sobre surto e psicose. Esquizofrenia no Google direciona para artigos interessantes no Scielo. Maiores informações procurem "Projesq" no oráculo web (google). Agora, minha recomendação pessoal...Melanie Klein...Winnicott.

De volta aos posts...sem recaídas.

24 comentários:

Anônimo disse...

Por falar em "arrastar" pessoas...

http://www.youtube.com/watch_popup?v=Ts2wdVRmY9w&vq=medium

Um belíssimo trecho de Oscar Wilde, interpretado por Antônio Abujamra.

Infelizmente, não conseguimos arrastar todos aqueles a quem gostaríamos e vice-versa.

Uma pena o colega de faculdade ter chegado a este ponto. Uma pena que o ambiente não deu trégua à sua mente cansada.

montagna disse...

Perdeu a paciência no fim do post e saiu correndo?

Leon Gonzalez disse...

senti-me perseguido por mim mesmo...kkkk

Anônimo disse...

isso é que é mania de perseguição!!! rsrs...

O colega se recuperou? (obviamente, tanto quanto isto seja possível)

Leon Gonzalez disse...

está internado já faz 2 meses...prognóstico ruim dada sua resistência a medicação.

Anônimo disse...

História triste...
Particularmente, tenho muitas ressalvas com a Psicologia. Não pelo foco do estudo, que é muito interessante, mas pela abordagem ou talvez pela forma de ver o paciente e suas dificuldades. Não sei se é uma visão generalista e distorcida (corrija a bobagens que eu disser), mas me parece que a psicologia parte de um padrão de "normalidade" (ditado pela medicina - pelo CID) e tem seu foco em encaixar o indivíduo neste "normal", automaticamente se ele não se adequada a isso é dito "doente".
Mas ele é doente? Ou é um sintoma da "normalidade"?
Alguém me disse certa vez que o surto (ou a loucura) era uma forma de manter a sanidade(!).

V. disse...

Penso que a psicologia é limitada por que remete a um só parametro de ajuda, enquanto pode-se existir um leque deles.
É triste ver a figura do psicologo como alguem que poderia estar ajudando mais, porem não consegue por causa das limitações do seu trabalho.
Criticas a parte...
Vendo pelos fatores geneticos o quanto seria o limite da ética ao se estudar genes que possam afetar a mente.
Imagine que em um teste genetico comum pessoas possam saber que serão depressivas ou terão disturbios dissociativos de personalidade.
Qual seria a nossa postura visto que não há realmente uma cura e sim um controle. O dilema contar ou não?

Anônimo disse...

@V.
Acho que o dilema maior seria fazer o teste ou não, principalmente quando já existem casos conhecidos na família. Não acredito que caiba ao médico contar ou não contar, se o teste foi feito é pq se esperava obter uma resposta.
A questão é difícil... por outro lado, o acompanhamento e o tratamento logo ao início dos sinais, ou evitar a exposição a fatores desencadeadores, poderiam trazer algum benefício, não?

V. disse...

@F.
Talvez... nunca se sabe.
Genetica não é algo tão trivial a ponto de se dar certezas.
A pessoa pode ter o gene e não expressar. Mas e se contarmos que tem, como será a responsabilidade sobre a vida da pessoa? E se ela resolver se matar?
Como tambem existem aquelas doenças que não tem nada que se possa fazer para impedi-la. Pense em alguem que tem Huntington e faz o teste aos 20 sendo que a doença se manifesta geralmente aos 30-50 anos. Vc contaria? Se fosse vc, vc iria querer saber?
Aí que entra o dilema. Quem aguentaria se ver cada vez mais perdendo a sanidade e ficando entravado numa cama?
Eu penso que na posição de alguem que sabe quais as condições do seu paciente e das consequencias do conhecimento da informação é muita responsabilidade.

F disse...

Com certeza, é muita responsabilidade e uma posição dura de se estar. Por isso, temos muito a refletir e discutir antes de tornar estes testes como parte das nossas vidas (na falta de uma maneira melhor de expressar). Não estamos longe disso... Quando um médico pede um exame para diagnóstico de câncer, por exemplo, ele não pode não dizer ao paciente o que está acontecendo, pode?
E eu me pergunto (sem ter uma resposta): e se o paciente quiser se matar (eutanásia, suicídio assistido), até onde vai o direito de o impedirmos? Ele não é dono de suas faculdades mentais porque deseja a morte? Ou é dono de uma lucidez que nem ousamos imaginar?
São um monte de questões que me vêm. Nenhuma resposta.

V. disse...

Gostei, agora chegamos no ponto da discordia. O quanto é nosso direito forçar alguem um tratamento, mesmo que seja para um usuario de drogas.
Não foi de livre escolha dele começar a usar, então ele tem que decidir quando parar.
Se concordamos isso para o cigarro por que não para drogas ilicitas?
Se forçamos um usuario de cocaina a se internar acaba que ele tem recaidas e só se livra de vez quando aceita o tratamento.
Parece estranho mas essa é a realidade. Ficamos no impasse de ajudar ou deixar tomar a decisão por si proprio.

F. disse...

Não, não é estranho. Real, sim. E põe realidade nisso!
Eu sou a favor (e NÃO é apologia)da liberdade... SEMPRE. A favor do direito de se fazer o que bem entender com seu corpo, com sua vida, com o que quer que seja, DESDE QUE isso não signifique ferir, prejudicar ou "sufocar" a liberdade do outro (e pra isso precisamos desenvolver a consciência de que existe um outro, ou seja, abrir os olhos para o entorno). Arrisco dizer que sou a favor do direito ao aborto de uma gravidez, da eutanásia, do suicídio assistido, da liberação das drogas. MAS, não estou dizendo que faria um aborto, que escolheria um suicídio assistido, ou que acho legal se entopir de drogas. Estou dizendo que defendo o DIREITO À, assim como a RESPONSABILIDADE POR, CONSEQUÊNCIAS POR e, acima de tudo, CONSCIÊNCIA EM CADA DECISÃO E ATO.
Uma ressalva em relação a passar por cima da vontade do outro: quando suas atitudes são ou tem potencial para causar dano a ele próprio ou a outras pessoas. Nesse caso não tem como, alguém tem de interferir. Por exemplo, num surto psicótico; numa crise esquizofrência em que o indivíduo fica violento; numa crise de abstinência pelo uso de entorpecentes em que a pessoa se descontrola...

V. disse...

Concordo com sua posição em relação a tudo exceto aborto, por que uma vez que se toma essa decisão não é só seu corpo que está em jogo. Aborto é controverso por que as pessoas em maioria só veem a parte da mãe e não a do bebê. Por quais ou quantos motivos justificariam a morte de um ser humano em perfeitas condições?
(eu sou a favor do aborto nas condições da lei ex.: estupro, e quando o feto tem qualquer tipo de anormalidade genetica grave ex.: tay sachs)
Penso que no momento que se engravida a mãe é responsavel por zelar uma 2° vida que ainda não está em condições de dar opinião e é injusto simplesmente não leva-la em conta. Estamos ferindo a liberdade de um ser humano e razão de outro. Ainda mantem sua posição em relação ao aborto?

Anônimo disse...

Mantenho.

Por isso:
http://www.nominuto.com/noticias/cidades/aborto-e-a-terceira-causa-de-morte-materna-no-brasil/52084/

E isso:
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/aborto+mata+250+mulheres+por+ano+no+brasil/n1237620888275.html


Não acho que o aborto seja um procedimento simples e sem implicações físicas, psicológias, emocionais... Não acho que td mundo deva sair transando sem precauções "pq tudo se resolve com o aborto". Por isso acredito em educação, conscientização e discussão sobre o assunto sem censura das opiniões. Há uma vida em jogo? Há. Mas que condições oferecemos para esta mulher (menina, adolescente) para manter esta gravidez? Que apoio? E quanto a procedimentos definitivos para evitar a gravidez? E os montes de crianças que nascem em famílias (quando há uma família) completamente sem condições para esta crianças? E as mães usuárias de drogas, as meninas postas pra fora de casa? E estas crianças ouvindo as queixas dessas mães infelizes por suas vidas que se alteraram?
Concordo, o assunto não e nada simples.
Mas continuo sendo a favor da legalização do aborto e do acolhimento dessas mulheres pelo sistema de saúde.

GaArini disse...

Perdoem intervir na conversa, mas retomando um pouco a questão sobre padrões de normalidade pscológica, até que ponto um indivíduo é tido como "normal" e o que, além de suas ações, claro, definem esse padrão de normalidade?

Com relação a assuntos como: aborto e legalização de drogas ilícitas, por exemplo, são questões realmente complexas e que não devem ser abordadas tão somente no âmbito bio-psicológico, mas sim tomar questões sociais, onde: até quem ponto a legalização de drogas ilícitas irá se refletir única, e exclusivamente, no vida do usuário? O aborto, até que ponto o uso desse método não atinge somente a vida de um inocente que ainda nem tem voz ativa, atingindo também a pessoa que fez uso dos mesmos e é discriminada pela sociedade pela prática que fez?

Mais uma vez perdoem por intervir no assunto e não sei se o comentário que acabo de fazer será de alguma serventia.

Anônimo disse...

Intervenções são sempre bem-vindas, GaArini.

Estas questões psicológicas são da alçada do Leon, mas a definição de "normal", se lembrarmos das nossas aulas de história, variou com a cultura, costumes, crenças, conhecimentos, enfim, com a sociedade em determinado local e época (bruxas, possessões demonìacas...). Eu diria que a gente, sociedade, é quem diz o que é normal.
Sua vez, Leon...

Sobre aborto e legalização de drogas ilícitas: em qualquer um dos casos outras pessoas podem ser afetadas. Sim, legalizar as drogas não afeta somente o usuário e também não é a melhor saída para o problema, mas o fato é que a proibição não impede que hajam usuários e menos ainda fornecedores. Aborto, idem. A gestante fica marcada, a mulher fica marcada.
O que eu queria dizer, e talvez não tenha sido clara, é que fechar os olhos pra isso tudo não muda o fato de que essas coisas continuam acontecendo. Volto a dizer: antes de qualquer mudança na forma de encararmos isso (legalização) precisamos de Educação e Reflexão.

montagna disse...

Bom, parece que já responderam por mim... mas enfim, o negócio aqui é causar tumulto, GaArini. Apareça mais vezes.

Fato é que eu continuo devendo uns posts... mas apareço em breve.

Farmacéptica disse...

Opss... acho que empolguei nos comentários... não pretendia responder por ninguém, M.

Já houveram tempos de mais tumulto...

GaArini disse...

Antes demais nada, agradeço a acolhida e oportunidade de participar das discussões, obrigado a todos! E perdoem algo errado que, eventualmente e certamente, possa surgir da minha parte.

Concordo com o aquilo que disse Farmacéptica, mas já que padrões de normalidade são impostos pela cultura na qual o indivíduo está inserido, creio que esses padrões acabam se tornando paradigmas sucetíveis a queda, consequentemente abrindo margem para equívocos, trazendo erros. A mesma linha de pensamento pode ser aplicada para questões como o aborto, por exemplo, que em última análise, tem sua discussão fundamentada em questões éticas, dadas por uma moral onde, essa por sua vez, está diretamente ligada a cultura. Nesse ponto me questiono muito, pensando até que ponto antes de rever esse tipo de questão, não devemos pensar, primeiramente, em nossa própria cultura?

Ainda concordo contigo no que diz respeito sobre a educação e reflexão, que são essenciais, porém e quanto as drogas lícitas, que causam tantos danos quanto as ilícitas?

Anônimo disse...

Aha! Acho que estamos chegando ao nó da questão (das questões)...

farmacéptica disse...

Por falar em normalidade...

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,edicao-atualizada-de-manual-de-saude-mental-pode-classificar-quase-todos-com-algum-transtorno,586765,0.htm

GaArini disse...

Bom, também tenho a sensação de que o nó está quase pronto, o que está me deixando ansioso pelas próximas respostas e posts!

Sobre a nota enviada, creio que há uma tendência de explicação para algo que há, e não há, explicação, sendo que estão vendo como "anormalidade" aquilo que distingue os cada ser humano: as diferenças. Se adotarmos a linha de raciocínio divulgada na matéria, então todo jogador de futebol que entra com o pé direito em campo, antes do jogo, sofre de TOC, ou ainda, todo sujeito que acorda de mau humor e no decorrer do dia se acalma, sofre de algum transtorno vigente, em última instância, até mesmo bipolar. Enfim, essa foi a impressão e a conclusão que cheguei. Por favor, destrocem-na!

Anônimo disse...

Acho que educação, discussão e reflexão valem pra qualquer tipo de droga. Muitos medicamentos (drogas lícitas) trazem malefícios. Por outro lado, grande parte das drogas de abuso de hoje foram utilizadas com fins terapeuticos no passado, ou têm sido pesquisas com esta finalidade nos últimos tempos.

Sobre esta matéria do link, eu vejo dois problemas:
1. Indivíduos sem doença alguma sendo tratados ou taxados como doentes e, o que eu acho pior, doentes mentais!

2. Pessoas que estejam passando por alguma dificuldade ou que sofram de alguma patologia psiquiátrica não procurarem ajuda ou demorarem mais pra isso, fato que pode agravar o quadro.

V. disse...

Nossa, cheguei de para quedas aqui. Uma semana fora e olha a que ponto chegamos... Parabens Sr. GaArine, vc acrescentou muito nas discuções, e espero que continue alimentando esse caldeirão de ideias.

Bom, no que diz respeito ao polemico manual: penso que cada vez mais as pessoas estão fugindo de seus problemas e repassando a consultorios psiquiatricos ou remedios. O que aconteceu com a boa e velha psicoterapia? ou mesmo o bom senso e amadurecimento?
Estamos com uma defasagem entre a paranoia de saude por pessoas saudaveis e o descaso pelo tratamento ou procura de ajuda por parte dos doentes. E marginalizar o diagnostico de disturbios graves só piora a situação.
Um livro que comica/tragicamente poderia ilustrar o que talvez nos espere seja "O Alienista" de Machado de Assis.
Espero não recair à loucura.