segunda-feira, 7 de abril de 2008

Imparcialidade

Nem vou comentar o assunto em si. Quero que se discuta o tom da reportagem. Se isso é imparcialidade, eu abandono de vez a imparcialidade que tento aprimorar e vou pro choque - por que assim não dá...

"Uso de animais vivos para ensinar divide professores

AFRA BALAZINA

DA REPORTAGEM LOCAL

O cão Jerry pode ser entubado, receber ressuscitação boca-focinho, tomar injeção e ganhar uma tala. Seu corpo também emite diversos tipos de som, da respiração e do coração, que podem ser ouvidos com a ajuda de um estetoscópio.
Mas esse cachorro não late, não abana o rabo nem sai pulando atrás do dono. Jerry é um manequim usado para substituir animais vivos em salas de aula e em treinamentos para futuros veterinários.
Ele veio ao Brasil na bagagem do inglês Nick Jukes, 41, coordenador da InterNiche (ONG que promove alternativas ao uso de animais na educação).
Até a próxima quinta-feira, acontece um encontro em universidades de São Paulo sobre o tema. Hoje e amanhã, o evento -que já passou pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e pela Faculdade de Medicina do ABC- estará na Unicamp (Universidade Estadual Paulista). Nos últimos dois dias, o encontro será na USP (Universidade de São Paulo).
O objetivo é difundir novas formas de ensinar -softwares de laboratório e de dissecção multimídias, simuladores de procedimentos cirúrgicos e manequins- que possam substituir bichos vivos sem que haja prejuízo ao aprendizado.
O uso de animais em pesquisas científicas não será abordado no encontro.

Tradição
Diferentes tipos de animais, como ratos, camundongos, coelhos e cachorros, são usados em aulas da área de biologia -para vivissecção- e no treinamento de futuros médicos e veterinários em cirurgias.
"As pessoas supõem que é bom aprender com animais vivos porque é a tradição. Mas pesquisas mostram que as alternativas são iguais ou até melhores para ensinar. Com os métodos substitutivos, você pode treinar repetidas vezes e, quando se sentir seguro, já pode praticar na clínica com pacientes reais", diz Nick Jukes.
A Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul eliminou em 2007 o uso de animais vivos para treinar estudantes.
Já na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, de acordo com a professora Júlia Matera, são usados apenas cadáveres de animais nas aulas de cirurgia. Entretanto, ela diz que nas aulas de farmacologia e fisiologia ainda se usam bichos vivos.
"Não há um consenso. Tem docente que acha que se o aluno não ver ao vivo e a cores não vai aprender", diz a professora, que implantou o uso de cadáveres há nove anos na cirurgia.
As opiniões também divergem entre os universitários (veja textos nesta página).
Ana Maria Guaraldo, presidente do Comitê de Ética na Experimentação Animal da Unicamp, diz que os alunos da universidade usam língua de boi para treinar sutura e bexiga para fazer o ponto de plástica. "O uso de cães zerou e houve grande redução no número de roedores", afirma.
Muitos professores, entretanto, acreditam que os métodos alternativos não suprem as necessidades de aprendizado.
O médico David Feder, professor da Faculdade de Medicina do ABC, considera que há limitações e teme que a formação do aluno fique aquém das necessidades da profissão.
"O ganho de experiência numa aula prática é maior porque você tem reações inesperadas e precisa interpretá-las", afirma.
A instituição em que leciona proibiu, no meio do ano passado, o uso de animal vivo nas aulas. A prática é liberada para "pesquisas inéditas, com relevância científica".
"Antes, os estudantes do 2º ano faziam pequenos procedimentos em roedores e, agora, infelizmente, o aluno fica assistindo a um filme com a demonstração", conta.
Outro problema que ele aponta é o alto custo das alternativas. "Um manequim complexo pode custar R$ 350 mil."
Os equipamentos, como o cão Jerry, muitas vezes são importados. Mas há empresas que os distribuem no país."

Está no link http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0704200801.htm

2 comentários:

Anônimo disse...

Quer dizer que aprender a suturar em língua de boi e ponto de plástica em bexiga dá certo ? Bem, desde que eu não seja a primeira paciente viva do futuro doutor, por mim tudo bem.
Não daria pra ter uma meio termo, por exemplo treinar bastante com os meio alternativos e aprimorar com o uso de animais vivos. Assim, utilizariam menos animais vivos, sem radicalizar a ponto de ensinar procedimentos práticos em vídeo.
Se não dá pra ser IMPARCIAL, quem não ser RADICAL.

Anônimo disse...

Esse é o pepino. Aos poucos a mídia vai conseguindo polarizar a conversa. De um lado os ecofundamentalistas, fazendo barulho. Do outro, os cientistas, que sempre estão calados, por que afinal de contas, vai tentar explicar as coisas pros leigos... leigos que pagam os impostos e decidem o que deve ser feito com o dinheiro que sustenta a ciência - ironicamente.
Pessoalmente, é verdade que ALGUNS procedimentos PODEM ser feitos sem prejuízo em simuladores (sejam quais forem). Outros não podem, e muitos NÃO DEVEM ser feitos em simuladores.
O problema é o que está por trás...